quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Pelo futuro de Guajará Mirim - Rondônia



Esse meu amigo Silvio Persivo escreve, de forma primaz, aquilo que gostaríamos de ter escrito. Certo dia, em Porto Velho-RO, fui ao lançamento do livro do Silvio, seu primeiro livro publicado, sua primeira obra poética intitulado "Apocalipse" (1982), e fiquei entusiasmado com a beleza do seu trabalho literário, com sua desenvoltura poética. Não sabia que Silvio era tudo aquilo. Isto porque, conheci Silvio Persivo quando éramos técnicos do Território Federal de Rondônia, ele na Secretaria de Planejamento e eu na Secretaria de Educação. E o nosso trabalho pouco ou quase nada tinha a ver com a poesia. Estávamos atarefados, totalmente voltados para as ações governamentais que executávamos, com vistas à transformação do Território de Rondônia em Estado. Depois, em 1981, no CESUR - Centro de Ensino Superior de Rondônia, estreitamos nossos laços de amizade, ele professor de Economia, eu o Diretor do Centro. Não muito tempo depois, em 1983, Rondônia já como o mais novo Estado da federação, seguimos juntos trabalhando em prol do desenvolvimento de Rondônia, desta feita na Universidade Federal de Rondônia, ele professor, eu Pro-Reitor Acadêmico. Juntos, também, fizemos parte do Conselho Estadual de Cultura de Rondônia e da União Brasileira dos Escritores em Rondônia-UBE.

Essas lembranças são para testemunhar o valor e a importância do Silvio Persivo para Rondônia, Território e Estado, tanto na área da economia, quanto nas áreas da educação e da cultura. E, também, para mostrar que sempre estivemos atentos e aliados em tudo àquilo que dissesse respeito ao desenvolvimento de Rondônia e, ipso facto, ao desenvolvimento de seus municípios. Guajará Mirim, por exemplo. No meu entendimento, que, obviamente, assim pensa o Silvio, é uma região que precisa ser olhada com mais carinho e atenção pelos governantes. Infelizmente, os governos que sucederam os criadores do estado de Rondônia (Cel. Humberto da Silva Guedes e Cel. Jorge Teixeira de Oliveira), que governaram Rondônia de 1975 a 1985, pouco fizeram em prol de Guajará-Mirim. E olha que Guajará Mirim é uma das regiões mais ricas do Estado, com destaque para suas riquezas naturais e a cultura de sua gente. Como escreveu Silvio, Guajará Mirim "...é povoada de reservas sem que se tenham criado alternativas para sua sustentação." Infelizmente!

Foi por amor à Guajará Mirim, pelo carinho todo especial que sempre tive por Guajará Mirim, que, no período de 2008-2009, quando presidente da Academia de Letras de Rondônia, resolvi dar ao município um dos melhores presentes que alguém que gosta de uma região pode presentear. Decidi fundar em alguns municípios rondonienses uma academia de letras. Guajará Mirim foi um dos municípios que escolhi. Lembro que tive que lutar e vencer algumas resistências de alguns que pensavam que, ao invés de Academia, devia-se criar uma associação.

Assim, com apoio do empresário no ramo da hotelaria, Paulo Saldanha, que também é poeta e escritor, filho de Guajará Mirim, fundamos a Academia Guajaramirense de Letras, em 12 de setembro de 2009. Minha ideia era criar a academia no dia 13 de setembro, data da criação do Território Federal de Rondônia (1943), mas, por motivos de deslocamento, viagem dos convidados, que teriam que ir de Porto Velho, escolhemos o dia 12 de setembro. E foi uma festa muito bonita e que movimentou toda a cidade, inclusive a vizinha cidade de Gusyaramerin-Bolívia, considerada uma das cidades fronteiriças mais progressistas do Território Boliviano, que fica em frente a cidade brasileira, à margem esquerda do rio Mamoré. Com esta iniciativa, demos à Guajará Mirim uma instituição cultural que, certamente, mobilizará os governos Estadual e Municipal e a população do município para a definição e implementação de políticas públicas, em todas as áreas, sobretudo na área da cultura-literatura, comprometidas com o desenvolvimento da região. Hoje, a Academia Guajaramirense de Letras funciona sob a presidência do escritor e poeta Paulo Saldanha e, de forma atuante, firme e responsável, é presença constante nas ações que visam o desenvolvimento social-cultural de Guajará Mirim.

(jose valdir pereira)


Silvio Persivo (*)
09-04-2011

Guajará-Mirim iria entrar no imaginário de minha família por conta de minha irmã, Vanessa, que, no final dos anos 50, casada com o sargento Almir, veio morar na Pérola do Mamoré. E nos contava sobre sua vinda de Catalina, um tipo de avião que pousava na água, e enchia de poesia as mentes com as histórias sobre a Madeira-Mamoré, que já chiava sobre os trilhos nos meus pensamentos infantis, sem jamais sonhar que, muito tempo depois, meu destino estaria tão ligado à Rondônia. O nascimento do filho de Vanessa, Luiz Eduardo, em Guajará-Mirim colocaria o Município, decididamente, como parte de nossas vidas. Mas, conhecer Guajará somente vim a conhecer em meados dos anos 70 pelas mãos de um filho seu, o Jorge Elage, que não só me acolheu como me apresentou à sua família, capitaneada pelo patriarca ainda vivo, Armando Elage, e me apresentou a muitas das famílias tradicionais, como os Melhems, os Vassilakis, os Bennesby, os Badras, os Casara, os Bouezs, os Saldanhas, os Nogueiras e tantas outras que, certamente, a memória me trai. Ainda lembro que Guajará ganhou,nos anos 60, as manchetes quando um índio exerceu o hábito de antropofagia nas proximidades do campo de pouso. Hoje, isto seria um crime quase infantil perto da tragédia de Realengo.

São coisas do passado. Neste domingo, 10, Guajará-Mirim completa 82 anos de vida. E, qual o Brasil, continua a buscar o seu futuro glorioso. Talvez até mais do que o Brasil já teve também seus altos e baixos, seus momentos de sensação de que, enfim, o futuro havia chegado, embora, na maior parte do tempo, a impressão é de que se ouça de lá apenas lamentos pelo que deveria ser e não é. Também, com razão, diga-se de passagem, seus habitantes reclamam que recebem mais juras de amor que gestos verdadeiros em prol de seu desenvolvimento, porém, aí nós já entramos na visão patológica sobre as crenças em promessas políticas.

A grande certeza que existe é que Guajará-Mirim tem uma importância fundamental em nosso Estado. Não somente por sua participação histórica em nossa consolidação como por ser um Município diferenciado por diversas razões entre as quais de ter um comércio centenário com a Bolívia, que é um atrativo irresistível e um imã permanente para o turismo interno. O que falta ainda a Guajará-Mirim parece, finalmente, estar se estruturando que é o que, modernamente, chamamos de o novo paradigma de desenvolvimento, a necessidade de criar um desenvolvimento local e endógeno. Neste sentido a maior participação de suas lideranças na eleição do governador Confúcio Moura mostra um novo tipo de liderança em emergência que já procura atuar de forma proativa contra a letargia de apenas esperar pelo governo.

É preciso que este esforço de união local, de busca de novos caminhos seja apoiado pelas forças políticas estaduais e até mesmo nacionais. É preciso ressaltar que se trata de um município que é povoado de reservas sem que se tenham criado alternativas para sua sustentação. Se a questão, então, é preservar as florestas que se dê incentivos para que se criem outras alternativas. Hoje, o prefeito Atalibio Pegorini e as classes produtivas, em especial a Associação Comercial e Industrial de Guajará-Mirim, pretendem que se permita que a Zona de Livre Comércio possa industrializar microcomputadores, laptops, tablets e matéria de informática, abrindo novas possibilidades para Guajará-Mirim e nosso Estado. É uma compensação adequada e justa. É preciso dar a Guajará-Mirim o presente que este Município merece e nada mais justo que ajudá-lo a ter um futuro à altura de sua importância histórica e de preservação de nosso passado e de nossa região.

(*) Economista com doutorado em desenvolvimento sustentável, escritor, poeta e professor de economia internacional e planejamento estratégico da Universidade Federal de Rondônia


                                      Escritor e empresário Paulo Saldanha e o poeta josé valdir pereira


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