Padre Vitor Hugo, Padre Claudionor e eu, discípulo de ambos.
Você sabe quem foi o pioneiro rondoniense VITOR HUGO? Aqui, não se trata da história completa deste desbravador (que escreveu o livro Desbravadores), mas apenas uma gota do oceano, da grandeza de sua vida.
De repente, recebo um telefonema e uma voz, já rouca, do outro lado, me dizia: professor Valdir (não me chamava de Valdir. Homem culto, mesmo sendo superior, não despreza a elegância quando lida com as pessoas, mesmo, se amigas). Eu estou aqui em Fortaleza e vou visitar meu amigo Claudionor (quem estudou no Ginásio Dom Bosco, sabe quem era o Padre Claudionor). Quer ir comigo? Lembrei-me de imediato do Padre Claudionor e, de imediato, aceitei o convite. O ex-padre Claudionor, soube depois da nossa visita, era na ocasião adido cultural na embaixada do Brasil no Chile.
Foi uma visita espetacular. Eu, como sempre, ouvindo mais do que a falar, deixei os dois tomarem seu tempo com as lembranças e reminiscências que os faziam rir, e se encherem de emoções. A esposa do adido cultural Claudionor e eu ficamos calados, apenas deixando os dois comemorarem seu encontro com alegria inenarrável.
Após algum tempo, nos despedimos e eu, mais uma vez, aprendi com eles a arte da convivência com os doutos das palavras dos livros sagrados e aperfeiçoei minha humilde forma de ser.
Nesta época eu era Coordenador de Planejamento da Secretaria de Educação do Ceará, no governo Ciro Gomes, e tive a honra de receber o amigo Vitor Hugo no gabinete, quando ele passou às minhas mãos os dois tomos do seu livro Desbravadores, com o precioso e histórico autógrafo.
Pois bem, como já é notável, adoro escrever. É claro que adoro ler também. Mas tem uma época que não leio de forma alguma. É quando estou escrevendo. Tenho receio de ser influenciado e fazer da minha criação uma repetição ou uma recriação, abordando, nestas palavras, texto de outrem; dizer de outra forma o que os poetas clássicos já disseram, embora de outra maneira. E, até mesmo, o quê, os meus contemporâneos estão a dizer. Coisas assim.
Também, não vejo nenhuma dificuldade em escrever. O que tem sido difícil, mesmo, é fazer chegar até o leitor o ser criado. A criatura. E o grande trabalho começa depois que decido publicar, em forma de livro, o que escrevi.
É que, neste instante, reflito sobre a índole, temperamento, virtudes e qualidades que o meu livro vai carregar. Por isso, esbarro sempre nessa dificuldade, embora superável, mas que me causa desterro. Tenho que me isolar e cometer sozinho minha loucura.
O livro, por exemplo, “Em Prosa e Versos”, o meu próximo afresco, “miguelangelismo”, me causou um pouco de êxtase e agonia. Mas é assim mesmo. É difícil um parto sem dor. Que digam as mães. Mas, depois, vem o encantamento. O contentamento. Mesmo que não seja um best-seller e mesmo que, seja pouco vendável, ali está ele: belo, cheiroso e enchendo de orgulho o criador.
E no meu caso, meus livros já têm destinatários certos: filhos e netas, alguns irmãos, sobrinhos, primos, afilhados, amigos... É tanta gente que, geralmente, uma só tiragem não atende a todos.
Sempre faço novas edições, para atender à demanda reprimida.
Pois bem! Este livro, além de se destinar a um novo segmento da sociedade, é, outra vez, endereçado aos meus leitores assíduos: parentes e amigos. São eles que contam.
Amigos, como os que me escreveram algumas linhas fazendo alusão aos meus trabalhos literários, já publicados.
Para eles, criei nesta obra a seção intitulada “Fragmentos de Cartas ao Poeta”. É uma homenagem que presto a esses amigos. São essas sinalizações, dentre outros toques sutis emitidos por gente como eles, que dão ao escritor estímulo para publicar suas obras literárias.
Assim, temos, no início, uma carta do amigo Vitor Hugo a mim endereçada, que, infelizmente, não se encontra mais no nosso meio, porque Deus inventou de chamá-lo para prestar seus nobres serviços lá pelo céu. Acho que, para Deus, sua missão já havia sido cumprida aqui na terra. Como bem disse o Zé katraca, no Jornal “Diário da Amazônia”, “O amigo Vitor Hugo, sem nos avisar e acho até que, sem ser avisado, partiu desse para outro plano”.
Quem conheceu o escritor, historiador e pesquisador Vitor Hugo sabe o quanto ele fez por Rondônia. Advogado e professor, foi Secretário de Estado da Cultura, Reitor da Universidade Federal de Rondônia e, entre outros feitos em prol do desenvolvimento de Rondônia, fundou a primeira emissora de rádio do Território Federal de Rondônia, a Sociedade de Cultura Rádio Caiari Ltda (1961), implantou a telefonia automática em Rondônia (1965) e é um dos principais responsáveis pela implantação da televisão em Porto Velho. É o autor dos livros “Desbravadores”.
Sobre ele escreveu a historiadora Yêdda Borzacov, em 2001, no seu livro “Gente de Rondônia – Personagem da Nossa História”: com os seus 80 anos, o historiador e acadêmico Vitor Hugo (membro do Instituto Histórico e geográfico de Rondônia e da Academia de Letras de Rondônia), continua com os olhos abertos para a vida e para o mundo, sempre a nos ensinar que a vida é uma renovação constante do próprio espírito, visto que o minuto que passa, e que nos vai levando, é um motivo a mais para criar e recriar”.
Beto Bertagna, sobre os feitos de Vitor Hugo (no seu escrito, Bertagna exprime o nome original do Vitor Hugo, que é Vitor Ugo e não Vitor Hugo), escreveu:
Vitor Ugo, autor de “Os Desbravadores”, fez estudos superiores em São Paulo, Rio de Janeiro e no exterior. Em seus mais de 40 anos de vivência em Rondônia, ocupou a cátedra do magistério de nível médio e superior. Foi o primeiro secretário de Estado de Rondônia para a Cultura, Esporte e Turismo – SECET, além de ter criado a Rádio Caiari, implantado o automatismo telefônico em Porto Velho, onde, nos anos 60, também colocou a primeira imagem televisionada. Com a autoridade de profundo conhecedor da região e dos homens que habitam a Rondônia de Roquette Pinto, lhe foi possível acompanhar passo a passo o progresso que a envolve, com seus complexos problemas, a partir da eclosão migratória aos problemas ecológicos, ambientais e do índio, todos vistos sobretudo sob o aspecto social.
Como diz o meu amigo Dadá do Areal, este, o Vitor Hugo, tem que ter um busto em uma das praças de Porto Velho, para que todos lembrem, para sempre, quem foi.
Vitor Hugo é um daqueles, um dos 15, (não o quinze da escritora Rachel de Queiroz, no qual retrata a seca que o Ceará sofreu em 1915), porém um dos 15 que criaram a Academia de Letras de Rondônia, em 1986, depois que o Estado foi criado, faltando-lhe uma entidade cultural/literatura, para completar a obra engendrada pelo governador Jorge Teixeira de Oliveira, já que após criar o Conselho Estadual de Cultura, do qual fui Presidente, e a Secretaria de Cultura, Esportes e Turismo (da qual o Vitor Hugo foi seu primeiro Secretário), ele bradou: esse negócio de academia de literatura é com vocês. E mesmo que eu quisesse, não podia porque uma academia de letras é uma associação/instituição a ser criada pela sociedade, por ser um órgão não governamental, regido por uma Lei Federal específica.
Em momento oportuno, discorrerei sobre a criação da Academia de Letras de Rondônia, com a participação do governador Paulo Nunes Leal, poeta Bolívar Marcelino, historiador Esron Menezes, jirnalista e historiador Emanuel Pontes Pinto, historiador Hugo, entre outros, cabendo a mim ser o Secretário ad hoc da primeira reunião, ocorrida na Biblioteca que leva o nome do irmão do escritor, jornalista e historiador Emanuel, Dr. José Pontes Pinto.
Vitor Hugo nasceu em Turim, na Itália, em 1921 e morreu no Rio de Janeiro após sofrer um ataque cardíaco, passados apenas três meses após me escrever, a carta que está no livro.
Chegou a prefaciar dois livros de minha autoria. O prefácio de um livro ou sua apresentação contém uma breve avaliação daquilo que o leitor vai encontrar durante a leitura. Vitor Hugo era um gênio, também, na arte de introduzir o leitor à leitura de um bom livro.
Perdia, à época, um grande amigo. Mas sei que, pelos serviços prestados aqui na terra, a pedido do Pai celestial, ocupa importante lugar no céu. Sei também que, quando a corte celestial aprecia alguns deslizes meus, o amigo sempre vota a meu favor.
Como me referi no inicio deste escrito, isto é apenas uma pequena amostra da história do nosso extraordinário pioneiro Vitor Hugo.
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