sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Apresentação para o livro "Desarrumando corações", de Nadylson Marcelino Brandão Rodrigues

 

APRESENTAÇÃO

·         José Valdir Pereira

Já fiz algumas apresentações de bons livros, principalmente da autoria de célebres escritores e poetas de Rondônia e do Ceará. Quando convido alguém para fazer a apresentação ou prefaciar um livro de minha autoria, procuro sempre àqueles talentos que possam enriquecer o livro, com suas palavras sábias, melhorando o conteúdo apresentado, e que tenha feeling acerca dos caminhos por onde enveredaram as vertentes do livro e conheça um pouco da alma e do coração de quem esteve, horas, dias, meses, anos a fio, dedicados à produção de uma obra literária ou técnica, que tem o fito de contribuir com a reflexão dos leitores acerca dos valores, atitudes e entendimentos que a humanidade está tendo sobre sua caminhada.

Nadylson, por intermédio deste livro de poemas, “Desarrumando corações”, com belíssimo poemas, é inegável, com certeza quer nos apresentar o que há de melhor na sua produção poética, onde procura nos mostrar suas impressões, reflexões e afazeres da vida que desfruta, desde que começou a entender sua parte do ser que segue nesse percurso e nesses percalços do dia a dia.

Sua introspecção na viagem que o leva à vida intrínseca e poética, está nos poemas:

“E se foi”,
“Tempo, vida amor, futuro...”
“Lembranças!”
“Aquela camisa azul-clara”
“A verdadeira energia”
“Qualidades de uma mulher”
“Quando te faltar...”
“Pensamentos de uma noite adentro”
“Desarrrumando corações”

Nas minhas constantes leitura na busca de sabedoria, pois um homem sábio consegue conviver melhor com a ignorância do mundo, encontrei uma frase que diz: “o céu estrelado vale a dor do mundo”. Parece, não vou afirmar peremptoriamente porque é uma constatação, Nadylson com seus poemas enche o céu de estrelas para que, ao contemplá-lo, desapareça a dor que o mundo em que vivemos nos causa, impiedosamente. Seu Ethos, que se circunscreve cortante e assertivamente, tanto quando trata de questões mais transcendentais, como quando de assuntos mais efêmeros, arranca de sua leitura o mesmo desejo de reflexão. Discorre sobre a confecção poética em si, assim como dialoga com outras vertentes.

Logo no limiar da demonstração do seu “eu” poético e existencial, quando se apresenta, Nadylson se expõe e nos traz à sua forma de ser e de viver, sua idiossincrasia, quando diz que é um brasileiro a trazer no peito a força do destino, um poeta transitando pela vida.

Nos poemas “Desarrumando corações” e “Chegando despretensiosa”, Nadylson me fez lembrar de uma canção do Conjunto 77, com a música “Desarrumar”, uma bela composição, onde desarrumar é tirar do lugar, da ordem ou disposição conveniente. Dá-nos a entender, Nadylson e o Conjunto 77, a força, a nobreza, a profundidade das palavras, o poder de quem a tem como ferramenta para dialogar com o mundo.

Roberto Carlos, de quem sou fã, em uma de suas canções composta com o parceiro Erasmo Carlos, intitulada “Você não sabe”, diz, em uma das estrofes do poema“...eu chegaria onde só chegam os pensamentos, encontraria uma palavra que não existe, pra te dizer nesse meu verso quase triste, como é grande o meu amor...”.

O autor deste magnífico livro de poemas, fez muito bem o uso das palavras para nos dizer através de seus versos, como é grande o seu amor pela vida, pela família, pelos amores que já teve, pelo que tem sido, pelo que é e pelo que faz. Ele nos traz poemas em que o eu lírico se circunscreve como carnal, passional e efêmero, diante de Deus e diante de si mesmo. Seus poemas versam sobre o estágio de desenvolvimento humano que em todos habita e que, circunstancialmente, se nos apresenta.

No poema “Despertar de uma admiração”, fica desnudado e à mostra por inteiro, onde percebemos, tudo ao mesmo tempo, o amor, o belo, o lírico, o divino e a presença de um coração amoroso:


Após uma longa e confortável dormida
Acordei pela primeira vez em uma bela primavera
Numa ensolarada manhã de outubro
Atento e curioso escutei o pulsar de um peito emocionado
Que irradiava através da pele um aconchegante calor
Que me transmitia uma segurança desmedida
Semelhante à minha antiga moradia

E do nada senti em minha cabeça um deslizar suave
De uma mão divina tentando alinhar meus rebeldes cachos
Para depois me acomodar em seus braços 
Acalmando-me em um fraterno e macio abraço 
E foram muitas noites e muitos dias...

 

Certamente não há como se furtar da assertiva de que Nadylson tem um pouco de Castro Alves, Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Joaquim Manuel de Macedo, poetas do romantismo,  uma vertente das artes que despontou no Brasil na primeira metade do século XIX, após a independência do país e que algumas obras literárias foram marcantes para definir o estilo, cheio de versos livres, sentimentalismo e idealizações, o que encontramos nos poemas deste livro do poeta.

Quem não se lembra do livro “A Moreninha”, de Joaquim Manuel de Macedo? Pois bem! Alguns poemas da autoria do poeta Nadylson (já podemos chamá-lo de poeta e, ao mesmo tempo, dizer-lhe: seja bem-vindo à divina classe) nos fazem lembrar desta passagem do livro:

“Em uma das ruas do jardim duas rolinhas mariscavam: mas, ao sentirem passos, voaram e pousando não muito longe, em um arbusto, começaram a beijar-se com ternura: e esta cena se passava aos olhos de Augusto e Carolina!

Igual pensamento, talvez, brilhou em ambas aquelas almas, porque os olhares da menina e do moço se encontraram ao mesmo tempo e os olhos da virgem modestamente se abaixaram e em suas faces se acendeu um fogo, que era pejo.” (Trecho do romance A Moreninha).

Com a presença do Nadylson em nosso meio, ganhamos um poeta cheio de simplicidade e encantamento. E as mulheres, um dos mais fervorosos admiradores, de quem terão sempre o romantismo, o lirismo e o afeto, traduzidos na doçura, na meiguice, na sutileza e na ternura de suas palavras a simbolizar o encantamento dessas musas que jamais deixarão de ser virgens, amantes, admiradas, amadas, amigas e queridas, em qualquer circunstância, tempo e lugar.

Neste momento, dou-me a lembrar, parafraseando o que me disse um dia seu tio acerca do meu livro “Momentos”, lançado em 1983, o extraordinário poeta sonetista Bolivar Marcelino, um dos fundadores da Academia de Letras de Rondônia (1986):

“Aí está pois, meu caro Nadylson, o teu livro de poemas “Desarrumando Corações”, com tuas catedrais de sonhos que irão perenizar-se na intemporalidade de tua arte.

Ao chegar ao escopo desta oportuna e prazerosa apresentação, que se eterniza no esplêndido livro de poemas do amigo Nadylson, a quem agradeço a honrosa e nobre distinção, deixo registrado as seguintes palavras de um admirável e inesquecível escritor russo:

“A coisa mais valiosa que um homem possui é a vida. 

Só lhe é dado uma vez e por isso deve aproveitá-lo para que os anos que viveu não o oprimam, para que a vergonha de um passado miserável e mesquinho não o queime e para que ao morrer possa dizer:

Dediquei toda a minha vida e toda a minha força à coisa mais linda do mundo, à luta pela libertação da Humanidade.”

Nikolai Alexeyevich Ostrovsky

Também, com a anuência do poeta Nadylson, quero deixar registrado aqui nesta apresentação de seu livro, as palavras de um amigo nosso, professor, historiador, escritor e advogado Vitor Hugo, quando fez a apresentação de um dos meus livros:

 

O poeta vai pela rua.

Ninguém está vendo o poeta,

Porque o poeta é transparente.

Mas duvido que ninguém sinta

A sua presença abstrata.

 

Todo livro tem a sua história particular, os seus quês e para-quês, defeitos ou virtudes, que lhes assinalam os homens, os fatos, ou a natureza. A poesia em ti começa em teu lar. Não és poeta porque escreves poemas, tampouco és poeta porque tens um lar poético.

 

Constituíste, sim, um idílico lar poético porque és poeta: a poesia está em ti.

A poesia é o coração, é a alma, um produto superior ao mesmo livro; em miríades de sensações diversas, em um labirinto de belos panoramas, dispostos ao colorão da arte, a poesia fulgura, a imaginação voa, o ideal se coloca e a imensidade aparece.

 

Confesso que não fiquei surpreso quando você me disse que estava se preparando para publicar um livro de poemas, convidando-me para fazer parte deste momento como apresentador.

 

Você é uma pessoa que tem aquelas qualidades que Deus espera haver em suas criaturas: simplicidade, amor ao próximo, dedicação à profissão, bom caráter, ética, cidadão responsável, cultua a família, a amizade e o bem-estar da sociedade.

 

Sei disso porque trabalhamos por muitos anos juntos, no mesmo chão, anonimamente, a serviço da mesma comunidade, ou seja, em prol da educação de Rondônia. E eu me orgulho de ser seu amigo.

 

Estão aí, Nadylson, os teus versos. Tua obra de arte. Teu livro é uma poesia, cheio de belos poemas. Continua compondo versos, continua sendo poeta, sobretudo na vida, esperança dos míseros humanos, divino apagador dos desenganos. Continua assentado na tua trindade poética: bíblico, lírico e existencial, e tudo em nome do amor!

 

Que assim Deus, o Criador, o ajude, o inspire e o encaminhe! 

 

·         José Valdir Pereira

Professor, poeta e escritor, com 11 livros publicados.

Em Rondônia, foi Subsecretário de Educação, Presidente do Conselho Estadual de Cultura, Presidente da Academia de Letras de Rondônia, Professor da Universidade Federal do Pará-UFPa e da Universidade Federal de Rondônia-UNIR,  Coordenador de Planejamento da Secretaria de Educação, Diretor do Centro e Ensino Superior de Rondônia-CESUR, Vice-Presidente da União Brasileira de Escritores-Seção Rondônia, Pró-Reitor Acadêmico da Universidade Federal de Rondônia-UNIR, membro do Conselho de Educação de Rondônia e fundador das Academias de Letras de Rondônia, e dos municípios de Guajará Mirim, de Cacoal e de Buritis.

No Ceará, foi Vice-Presidente da Associação Nacional de Política e Administração da  Educação para a Região do Nordeste, Coordenador de Planejamento da Secretaria de Educação do Estado, Diretor de Administração da Delegacia do MEC no Ceará, Coordenador do Projeto Nordeste/Acordo Brasil-MEC-CE e Banco Mundial, Presidente do Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania-PNAC.

Atualmente é membro dos Diplomados da Escola Superior de Guerra-ADESG, membro Conselheiro da Fundação CESGRANRIO, Revista ENSAIO - Avaliação e Políticas Públicas em Educação, membro da Associação Nacional de Política e Administração-ANPAE, membro da Academia de Letras de Rondônia, membro da Associação Varzealegrense de Poetas e Escritores-AVAPE e cidadão Honorário do Município de Porto Velho-RO.

Por fim, além de se dedicar à vida literária, José Valdir Pereira é consultor em financiamento e planejamento de ações socioeconômicas e culturais.

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