Uma apresentação de um livro, um prefácio, é o cartão de visitas, o convite ao leitor, convencendo-o de que sua leitura será agradável, enriquecedora, além de constituir-se em uma mostra, pelo valor de quem faz a apresentação ou o prefácio, que ali, no livro, tem significância literária, beleza poética e alegria para o coração.
Quando escrevi um dos meus primeiros livros, estava rodeado de celebridades das letras e das artes. Amigos e pessoas da comunidade rondoniense que participavam plenamente do desenvolvimento econômico, social, cultural e político de Rondônia. Eram tantos!!!
Como eu estava muito próximo do Vitor Hugo (em memória), que mostrou-se muito amigo e confiante na minha capacidade técnica ao ter me convidado para ser seu Secretário Adjunto na Secretaria de Cultura, Esportes e Turismo - SECET, decidi pedir-lhe que fizesse o prefácio do meu livro "Momentos", poemas selecionados, muito lirismo e exprimindo a história dos poetas apaixonados pela vida e de bem com ela.
Vitor Hugo, muito prestativo e homem dedicado às artes, à cultura e à educação em geral, aceitou o convite. E escreveu esta obra prima de prefácio. E, querendo mostrar-se simples e humilde, escreveu: "Como se prefácio fora".
Beleza deixada pelo Vitor Hugo no meu livro Momentos. Além do Vitor Hugo, tive o privilégio de contar com as ilustrações do querido amigo Isaias Viera dos Santos (em memória). Pois é! Isaias era também um excelente desenhista.
O livro foi show. Sucesso. Hoje é um dos meus livros cuja edição está esgotada.
COMO SE PREFÁCIO FORA
Meu bom Valdir,
O que tens escrito pelo desenvolvimento cultural de Rondônia, recomenda-o ao respeito e à admiração gerais. Essas são palavras de um ex-Presidente da república, ditas a respeito de outro poeta amazônida. Mais que simples plágio, eu as incorpora à testa desses minipoemas poéticos de tua lavra.
Ausculto em suas entrelinhas
...um tipo de sêmen radiativo
...a nova luz o novo sangue
que há de expulsar dos cérebros futuros
o código das sombras, a fome de matar
e os resíduos totêmicos do medo.
Ao receber o manuscrito solicitando-me palavras de sua abertura em compasso de “abertura”, parecias dizer-me:
Amo arrumar palavras. Porque sei que há traças percorrendo em rios de papéis.
Coisa difícil é dar...
Palavras são sangue, mesmo as que gravadas sem propósito.
Escuta-me, Valdir: se foi surpresa para mim o pedido que me fizeste, eu já tinha descoberto em ti “o” poeta:
O poeta vai pela rua.
Ninguém está vendo o poeta,
Porque o poeta é transparente.
Mas duvido que ninguém sinta
A sua presença abstrata.
Todo livro tem a sua história particular, os seus quês e para-quês, defeitos ou virtudes, que lhes assinalam os homens, os fatos, ou a natureza. A poesia em ti, Valdir, eu já t’o disse: começa em teu lar. Não és poeta porque escreves poesias, tampouco és poeta porque tens um lar poético.
Constituíste, sim, um idílico lar poético porque és poeta: a poesia está em ti.
A poesia é o coração, é a alma, um produto superior ao mesmo livro; em miríades de sensações diversas, em um labirinto de belos panoramas, dispostos ao colorão da arte, a poesia fulgura, a imaginação voa, o ideal se coloca e a imensidade aparece.
Estão aí, Valdir, os teus versos. Continua compondo versos, continua sendo poeta, sobretudo na vida, esperança dos míseros humanos, divino apagador dos desenganos.
Dentro de tua mensagem poética, otimista, entretanto, não te esqueças, Valdir, do nosso primeiro vate, cujos ossos repousam no Cemitério dos Inocentes; estou falando de Vespasiano ramos, que morreu lembrando-nos a nós todos, triste realidade:
...na terra, deu-se, apenas, isto:
multiplicou-se o número de Judas
...e vai crescendo a prole de Pilatos.
VITOR HUGO
Historiador, escritor, professor, advogado, Tradutor juramentado, membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, do Amazonas e de Rondônia, membro fundador da Academia de Letras de Rondônia, Reitor pró-tempore da Universidade Federal de Rondônia - UNIR, Secretário de Cultura, Esportes e Turismo de Rondônia.
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