terça-feira, 21 de maio de 2024

Retalhos da história de Rondônia - 9






Matias Mendes, o mestre pioneiro das letras em Rondônia, uma doação do Vale do Guaporé.
 
Aliás, ou Vale Valioso! Como se não bastasse Matias Mendes, encontramos uma Yedda Borzacov, um Edson Jorge Badra, um Paulo Saldanha e tantos outros que dão à lista valor incomensurável. 

Gosto muito de trocar cartes, bilhetes e correspondências com os amigos. Com os de perto, e com os de longe. De Oiapoque a Chuí e de Fortaleza à Portugal, USA, França, entre outras amizades que semeei nessa vida afora.
 
Um dos preciosos momentos que vivi nessas incursões, foi quando o Matias e eu, trocamos algumas cartas, relembrando um pouco de alguns fatos que consubstanciaram nossas vidas de escritores, de poetas e de pioneiros da literatura rondoniense, participando, ao lado de outros integrantes da literatura do torrão, como José Ferreira (Bahia – em memória), Selmo Vasconcelos, Eunice Bueno, Silvio Persivo, Kléon Maryan (em memória), Bolivar Marcelino (em memória, José Cercino, entre outros.
Em uma dessas cartas que escrevi para o Matias, lembrava-o dos nossos momentos literários. Foi desta maneira que eu me dirigi ao nobre e baluarte da literatura rondoniense, Matias Mendes.
 
Matias, querido confrade, poeta, historiador, escritor e amigo: você, a inesquecível amiga Kléon Maryan, os amigos Bolivar Marcelino, Edson Badra, Eunice e o nosso saudoso 'Bahia", são nossas referências literárias...
 
Eu me recordo sempre de como cada qual se apresentava nas atividades, nos movimentos e nas nossas reuniões literárias e culturais...
 
Para mim, sem a presença de vocês, esses momentos e movimentos literários de Rondônia e em Rondônia não tinham o valor desejado e a importância proposta. Ocasionalmente, releio seus livros, os livros da Kléon, os livros do querido amigo Edson Jorge Badra, a quem estimulei e dei meus incentivos técnicos para publicação do seu primeiro livro, "Sonhos Prosaicos e Poéticos", em 1987.
 
Nas leituras encontro-me com vocês e dou um "chega para lá" à "marvada" saudade. E você, Matias, devia escrever mais, porque adoramos sua poesia... E você é uma das expressões mais notáveis e preciosas que Rondônia possui...
 
"Nada como la poesia para excitar el sentimientoy emoción...para hacer vibrar las fibras más sensibles del ser humano."
 
Você, amigo poeta Matias, faz os versos que amamos, aqueles que nos transportam para o mundo mágico e delicioso da poesia, da vida.
 
Parabéns, grande amigo!
 
- jose valdir pereira –
 
Para esta carta, Matias respondeu:
 
Meu caro confrade José Valdir, também membro fundador da Academia de Letras de Rondônia.
Na verdade, eu nem sou tanta coisa assim como a sua generosidade apresenta-me, mas sou de fato príncipe-beirense de nascimento, tendo como legítimo município de origem a cidade de Guajará-Mirim, que era a Comarca quando nasci no Território Federal do Guaporé, no ano de 1949.
 
Costa Marques é apenas a nova divisão política da minha região de origem, mas prefiro mesmo dizer que sou natural do Forte do Príncipe da Beira, o verdadeiro centro de civilização que deu ao Brasil grandes homens e grandes e belas mulheres que atuam ainda hoje pelo Brasil afora em suas respectivas atividades profissionais, principalmente no quadro de Oficiais do Exército, mas também há médicos, enfermeiros, pedagogas, professoras de diversas áreas do conhecimento, oficiais legionários, oficiais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros, alguns não propriamente do Forte do Príncipe, mas todos das barrancas do nosso velho e legendário Guaporé...
 
( ... )
 
Matias Mendes
 
Foi assim que o poeta Matias começou a responder a carta que lhe enviei.
Para não me alongar neste texto, fiz um corte na carta e sigo mostrando outro trecho do que escrevera o poeta do Vale do Guaporé, quando nos damos a conversar, a trocar ideias e a confabularmos acerca da literatura.
Matias, em uma parte do prefácio do livro que ainda vou publicar, mas que já garanti sua valiosa participação na obra como prefaciador, escreveu:
 
Professor Valdir:
 
Ao longo dos meus anos de prática literária, com incursões por gêneros e temas diversos, aprendi sobretudo a conviver com os estilos que nem sempre se incluem no domínio do meu manejo pessoal das letras.
 
O aspecto mais positivo de tal aprendizado foi o desenvolvimento do senso crítico em relação às minhas preferências literárias.
 
Foi esse longo aprendizado que me fez apreciar progressivamente a maneira diferenciada de como você se dedica a construir sua poesia, marcantemente personalizada e por vezes notadamente distanciada em relação a muitos autores regionais.
 
O estro poético valdiano, ao meu modesto e desautorizado ver, é o mais madeirista que se poderia entrever no contexto literário de Rondônia. E encerrou, dizendo: conquanto nunca se tenha o Autor apresentado como integrante da corrente literária autodenominada madeirista, vejo-o assim.
 
Pois bem, amigos deste amável espaço, que muito nos lembra o inesquecível amigo Chagas Neto, esta exposição de enxertos de missivas trocadas entre os dois escritores, que faço aqui, não tem outro propósito, a não ser o de manter a chama viva dos nossos pioneiros, na mente e na lembrança dos rondonienses, de todos nós.
 
Aliás, esta é minha proposta e agradeço aos administradores do Grupo. Aquela de Revisitar, recordações e reminiscências dos grandes pioneiros que deram suas vidas e de outros que ainda o fazem, em prol da criação, construção e desenvolvimento de Rondônia. Rondônia, Território Federal e Rondônia Estado, torrão brasileiro, hoje a desfrutar de sua autonomia administrativa, econômica e política. E não só. A despontar, em breve, em muitas vertentes, como a unidade federada mais potente e desenvolvida da Região Norte.
 
MATIAS ALVES MENDES, «O Poeta do Guaporé", nasceu no vale do rio que emprestou o nome ao extinto Território Federal do Guaporé, quando da sua criação em 1943. O poeta nasceu no dia 24 de fevereiro de 1949, na Colônia Lamego, em Forte do Príncipe da Beira.
 
Estreou na literatura em 1982, com a publicação do livro de poemas «As Emoções e o Agreste". Além da sua obra de estreia, sua atual bibliografia inclui, entre outros, os seguintes títulos: «As Musas e o Perfil" (poesia), «As Quimeras e o Destino" (poesia), «As Malvinas do Jamari" (história regional) e «Síntese da Literatura de Rondônia", ensaio literário que publicou em coautoria com a poetisa Eunice Bueno da Silva.
 
PROCEDÊNCIA
 
Venho lá da serena Paz campestre,
Lá das remotas e bucólicas paisagens,
De onde os procelosos ventos das friagens
Estrugem em cordilheiras do oeste...


Venho das serrarias do agreste,
Dos verdes vales, das verdejantes margens,
De onde com imponência as ramagens
Erguem-se altaneiras da vastidão silvestre.


Venho de extensas florestas, largos rios,
De entre animais belos e bravios,
Da terra onde o horizonte é mais candente...
Venho das noites amenas das cordilheiras,
De perto do fragor das cachoeiras,
Da terra do esplendor do sol poente!


Matias Mendes e o poeta












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