sábado, 25 de maio de 2024

Retalhos da história de Rondônia 12




Dr. Cezar Augusto Carvalho de Queiroz
 


Rondônia sempre foi uma terra abençoada e acolhedora.
É evidente que uma das virtudes do seu povo nativista, sempre foi a de acolher a todos com carinho, respeito, calor e muito zelo.
Existem frases na letra do hino de Rondônia, que dão a performance do povo e da terra rondoniense: “Somos destemidos pioneiros”, “aqui, toda vida se engalana”, por exemplo
 
Por ter feito parte dos governos militares, desde o Cel. João Carlos Marques Henrique Neto, conheço um pouco da história nesse período. Este, nos dois períodos em que foi Governador do Território, criou a Ceron e a Caerd e na sua gestão aconteceu a eleição para composição da primeira Câmara de Vereadores de Porto Velho, após a criação do Território e a implantação da primeira emissora de televisão da nossa capital, a TV Cultura. Um dos grandes problemas que teve que enfrentar, foi a revolta dos garimpeiros, que invadiram a cidade de Porto Velho, em protesto à mecanização iniciada na exploração do minério de Estanho nos garimpos.
 
Em seguida, veio o Cel. Humberto da Silva Guedes, que transformou a Guarda Territorial em Polícia Militar e construiu o quartel da corporação. Construiu ainda a sede do Instituto Médico-Legal (comandado pelo inesquecível médico e amigo José Adelina da Silva - fui professor de sua esposa Joana D'Arque no Instituto Maria Auxiliadora). Guedes construiu, também, o primeiro prédio do Tribunal de Contas, e, com a ajuda do notável advogado, Dr José Mário, que também era Vice Governador, reestruturou a segurança pública. Reformou o Palácio das Secretarias (antigo Porto Velho Hotel) na Capital e iniciou as obras da Esplanada das Secretarias, no Bairro Pedrinhas. E ainda mais: construiu o prédio do Fórum Rui Barbosa, primeira sede do futuro Tribunal de Justiça, e concluiu o projeto da hidrelétrica de Samuel. (Seu governo enfrentou muitos problemas fundiários).
Após o Governo Guedes, que fez um governo excelente no Território Federal de Rondônia (fui seu Subsecretário de Educação e de Cultura e o titular era o Prof. Jerzy Badocha), chega o Cel. Jorge Teixeira de Oliveira, cujos feitos estão ainda percorrendo as mentes de todos nós, por serem mais recentes. Como integrante desses governos, sempre exercendo cargo de comando em várias áreas (tendo exercido no governo do Cel. Jorge Teixeira o cargo de Secretário Adjunto da Educação e o titular era o Dr. Álvaro Lustosa Pires - em memória), conhecia de forma efetiva o apoio que os governos davam àqueles que chegavam para serem contratados pelo Território.
 
Conheci migrantes recém-chegados em Porto Velho, que recebiam do governo atenção tão especial, a ponto de serem hospedados em hotéis, até que resolvessem a instalação em residência alugadas por sua iniciativa e às suas expensas.
 
E os que chegavam, se tornavam, aos poucos, gente da terra, irmãos da terra, cidadãos comprometidos com o torrão que os acolheu, com muito ternura, carinho e atenção.
 
Rondônia, por ser criado Território Federal em 1943, mesmo já em1974, ainda era uma parte do Brasil muito pouco estruturada, desenvolvida, a ponto de não poder oferecer uma qualidade de vida que se desfrutava nos outros rincões do Brasil. Rondônia, até o governo Marques Henrique, era tratado como um simples departamento do Ministério do Interior (MINTER). E, por isso, contava com um orçamento minguado, sendo, em consequência, impossível ao governador alçar voos mais altos. Tudo mudou com a entrada do Governador Guedes, que recebia todo apoio do Presidente Ernesto Geisel, e, em seguida, com o "Teixeirão", que recebia apoio irrestrito do Ministro Mário Andreazza, Ministro do MINTER (Ministério do Interior).
 
Pois bem! Mas Rondônia era uma terra tão cheia de afetividade, solidariedade, união e amizade, que nada que já se tivesse usufruído em outras plagas, fazia falta para os que decidiram morar na afetuosa e acolhedora área de fronteira do Brasil. O povo de Rondônia, a natureza, com seus rios, igarapés e pomares naturais, davam a alegria e o bem-estar que todos procuravam.
 
Nos primórdios tempos da terra, poucas atividades econômicas davam os rumos da economia do Território. Passou pelo tempo, ciclo da borracha, experimentando, em seguida, o tempo da fartura do ouro, depois do minério de Estanho (cassiterita, em termos minerais concorrendo com o Território do Amapá, que era o rei do Manganês), mas o aprazível lugar tinha na sua economia como principal mola propulsora, o comércio, o capital que advindo dos salários que recebiam, ao final de cada mês, os funcionários públicos federais.
 
Nesse tempo, Rondônia tinha duas categorias de servidores: os servidores federais (regidos pela CLT) e os funcionários públicos, os chamados estatutários (tipo regime especial). Quem, nesta época, gerenciava a área de pessoal, era o saudoso Carlos Rodrigues da Silva (nem se ouve falar no seu nome. Trabalhava de manhã, de tarde, de noite e até de madrugada), com a ajuda da professora Alda, Ilza Caculakis (Diretora do Departamento de Pessoal Substituto, que foi minha aluna no Carmela Dutra) e Eli Aquino Felizardo, que sucedeu o Diretor Laécio Verçosa da Silva.
 
Como Rondônia experimentava nesse tempo várias fazes da economia que sustentava seu desenvolvimento, a região contava com as autoridades nomeadas pelos seringais os grandes seringalistas (meu tio Augusto Leite foi uma delas), autoridades oriundas do extrativismo mineral, etc. Mas as autoridades constantes e que comandavam o Território eram as autoridades do executivo (Governador, prefeitos de Porto Velho e de Guajará Mirim) e as eclesiásticas (Bispo Dom João Batista Costa, padres, irmãs salesianas e outros integrantes da Igreja), além dos Pastores Cristãos Evangélicos.
Neste tempo, só um problema se fazia muito frequente em Rondônia. A cada quatro anos, ou até menos, os governadores eram substituídos. Se não me falha a memória, somente o governador Carlos Marques Henrique teve dois mandatos, o segundo menor que o primeiro. E, por conta dessas mudanças das chefias do executivo, toda a estrutura governamental era alterada. Quase todos do governo anterior, principalmente os comissionados e os sem estabilidade, eram exonerados, demitidos, dispensados e outros nomeados.
 
Muitos rondonienses, os natos e os que fizeram de Rondônia sua terra amada do coração, participavam dos governos do Território em vários momentos, dependendo das circunstâncias políticas.
É aqui que começo a destacar um pouco a vida de um dos grandes homens de Rondônia que, enquanto esteve na região, até sua partida para os braços do Pai Eterno, viveu a se dedicar ao seu desenvolvimento, estruturação, progresso e evolução administrativa. Trata-se do Dr. CEZAR QUEIROZ, nosso “velho” amigo, coração de anjo, cidadão educado, trabalhador, incansável nas missões que recebia e muito querido por todos.
 
Esta é um pouco da história de um verdadeiro destemido pioneiro, como alude o hino de Rondônia (aliás, o mais bonito de todos).
 
Dr. Cezar Augusto Carvalho de Queiroz, amazonense nascido em Manaus, formou-se em Direito pela Universidade do Amazonas, tendo chegado a Porto Velho em 1944, (veja a data, ou seja, 1 ano depois que o Território Federal do Guaporé (Rondônia) foi criado pelo Presidente Getúlio Vargas.
 
Assim, com a criação do Território Federal do Guaporé, em 1943, ele fixou-se definitivamente em Porto Velho, passando a pertencer ao quadro de funcionários territoriais na Gestão do Governador Aluízio Ferreira, em 2 de maio de 1944.
 
Os pioneiros de Rondônia, os destemidos, só eles enfrentariam os desafios para viver aqui, se não tivesse muito amor pela terra. Isto porque ninguém poderia querer viver na fase de estruturação e organização da terra, ainda com poucos recursos para garantir uma qualidade de vida nos moldes dos grandes centros dos outros brasis.
 
Dr. Cezar Augusto, na companhia de outros pioneiros como o historiador Esron Menezes, o médico Ary Pinheiro, a professora Marise Castiel, o professor Vitor Hugo (os salesianos, padres e freiras), entre outros, trabalharam com afinco e ofereceram à terra a ser domada, toda sua juventude, seu saber e capacidade profissional para que hoje pudéssemos contar com uma Rondônia pujante, desfrutando de elevado IDH e apresentando bons índices de desenvolvimento econômico e social. Ou seja: eles cuidaram bem do alicerce sobre o qual Rondônia foi assentada. De tão dedicados e acreditando em um futuro promissor à terra, esses pioneiros chegavam a trabalhar sem nenhuma retribuição financeira, como foi o caso de alguns professores que davam aula na Escola Normal Carmela Dutra.
 
Dr. Cezar, por sua vez, se destacou nas áreas fundiária, esporte, cultura e educação. Considerado como um dos pioneiros em Rondônia, como Advogado, era um estudioso e profundo conhecedor das Legislações Fundiária e Desportiva, dedicou grande tempo de sua vida pública nos anos 70, trabalhando na regularização das áreas urbana dos Municípios de Porto Velho, Ji Paraná, e Guajará Mirim, dedicando-se dar solução a tão angustiante problema de ordem social e econômica, qual seja o problema fundiário do Município de Porto Velho. Foi o executor do Grupo de Regularização de Áreas Urbanas no Ex - Território Federal de Rondônia, designado pelo então Governador Cel. Humberto da Silva Guedes (um dos principais problemas enfrentados pelo governo Guedes).
 
Na área do esporte, logo que chegou a Rondônia, filiou-se ao Ypiranga Esporte Clube, fazendo daquele clube a razão de sua vida desportiva, tendo sido Presidente do Conselho Fiscal e Presidente do Conselho Deliberativo do Clube. Junto à Federação de Futebol de Rondônia, colaborou na criação de Federação de várias modalidades esportivas e Ligas Desportivas nos Municípios de Rondônia, tendo sido, por 8 anos, o Presidente do Conselho Regional de Desportos – CRD.
 
E mais: em face de sua dedicação e contribuição ao esporte de Rondônia, seu nome foi reconhecido com a honraria da Medalha do Mérito Desportivo Dr. Cézar Augusto Carvalho, pelas Leis 2.725, de 27/04/2012, e Lei n.º 2.893, de 14 de novembro de 2012. Esta medalha é concedida anualmente, por força de Decreto do Governador, à pessoa ou entidade cujas ações mereçam especial destaque na defesa e promoção do esporte rondoniense. Você conhece alguém que já recebeu esta medalha?
 
Na área da educação, foi Diretor da Divisão de Educação do Território Federal de Rondônia, no período de dezembro de1959 a dezembro de 1962 e, mais tarde, membro Titular do Conselho Diretor da Fundação Universidade Federal de Rondônia - UNIR, e membro do Conselho Estadual de Cultura.
 
Como dirigente da Divisão de Educação, lembro-me de uma ocorrência com a mamãe. Nesta época, quando mudava de governo, o pessoal que servia ao governo anterior era dispensado ou era designado para exercer suas atividades em lugares distantes, às vezes, em outras localidades (vilas) no entorno da capital. Mamãe foi uma desses servidores afetadas. Ela me disse que o Dr. Cezar Queiroz a chamou e lhe disse: Dona Augusta, não se preocupe. Tudo vai ser resolvido e a senhora não será prejudicada. Esta passagem, contada pela mamãe, foi inesquecível para mim.
 
Pois bem! Este pioneiro de bom coração, cidadão calmo, tranquilo, cheio de paz no coração, competente e trabalhador, foi, também, membro de vários Conselhos (penitenciário, regional de desporto) e chegou a ser Diretor do Serviço de Geografia e Estatística do Território Federal de Rondônia.
 
Convém ressaltar um dos fatos importantes na vida do advogado Cezar Augusto Carvalho de Queiroz.
Como sabemos, o governador Marques Henrique foi o responsável pela criação da CERON. Pois bem! Dr. Cezar Queiroz foi um dos integrantes do Grupo nomeados pelo Governador Marques Henrique responsável pela fundação da CERON. Eles, Dr. Cezar Queiroz, Floriano Rodrigues Riva, Adilson Alves dos Santos e Hélio da Silva Melo foram os fundadores da CERON e receberam a incumbência dada pelo Governador, de tomarem as providências necessárias à constituição e funcionamento da empresa, até a data de eleição da Diretoria.
 
Foi casado por 62 anos com a Professora Hilda Nunes Duarte de Queiroz, também amazonense, de cuja união nasceram quatro filhos, todos amazônidas: Cezar Augusto Duarte de Queiroz, Economista, nascido em Manaus–AM, Maria do Rosário Duarte de Queiroz, nascida em Porto Velho, e os gêmeos, Antônio Cezar Duarte de Queiroz, Administrador e Mario Jorge Duarte de Queiroz, Administrador e Advogado, nascidos em Belém–PA.
 
Todos nós, senão todos, pelo menos a grande maioria dos rondonienses, principalmente, os residentes em Porto Velho, Guajará Mirim e Costa Marques, conhecemos os filhos gêmeos do Dr. Cezar Augusto. Um se destacou como Secretário de Administração no governo municipal de Porto Velho, gestão Tião Valadares, Antônio Cezar Duarte de Queiroz (em memória). O outro, Mario Jorge Duarte de Queiroz, além de outras responsabilidades assumidas, foi prefeito de Costa Marque, nomeado pelo Cel Jorge Teixeira.
 
Portanto, família extraordinária, que desde o início, quando Rondônia ainda era Território Federal do Guaporé, começou a se dedicar, de corpo, alma e coração, à construção desta terra da qual hoje nos orgulhamos.
 
Dr. Cezar Augusto Carvalho de Queiroz, aposentou no dia 28 de maio de 1992, como Assistente Jurídico da Advocacia Geral da União – AGU e faleceu em sua residência, localizada à Av. Farquhar, Bairro Caiari, em 2005, deixando um belo exemplo de dignidade, de integridade e de bondade a ser seguido.
 
Não é possível mostrar, através deste escrito, todo o imenso valor que teve este pioneiro para Rondônia e sua gente. O importante é mantermos sempre viva a chama desses pioneiros que dedicaram sua vida em prol da construção do Estado de Rondônia. A maior honra para eles e para sua família é serem sempre lembrados e reconhecidos.

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