terça-feira, 21 de maio de 2024

Retalho da história de Rondônia - 7




Não propositadamente esquecidos. É que pouco lidamos com a valorização dos nossos entes queridos. E, até mesmo, dos nossos grandes vultos históricos, personalidades que se dedicaram a vida todo pelo bem-comum e pelo bem-estar dos outros.
 
Outro dia, o amigo Dadá e eu falávamos sobre este assunto. Dessa conversa nasceu a ideia da publicação de um livro que intitulamos "O livro dos esquecidos".
 
Evidentemente, nem todos lembrados pelo livro, já estão esquecidos. Porém, a maioria sim!
 Principalmente àqueles que muito se dedicaram à construção e desenvolvimento do Território Federal de Rondônia. Como sabemos, até chegarmos à condição de Estado, muito tivemos que labutar, dia e noite.
 
Eu já comecei a pesquisa para escrever este livro. Fotos, reportagem, depoimentos, citações estão sendo levados a termo. Não vai demorar muito e o livro sairá.
 
Neste "Retalhos da História de Rondônia" de hoje (este título é uma homenagem ao saudoso historiador Esron Meneses), a abordagem é sobre uma das mulheres mais cultas e elegantes de Rondônia.
 
UMA HOMENAGEM À NOBRE E GUERREIRA PROFESSORA
ELEIDE RIBEIRO DE LIMA (A primeira dirigente de uma instituição de ensino superior em Rondônia)
 
"Um povo sem memória é um povo sem história. E um povo sem história está fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do passado." Emília Viotti da Costa
 
Rondônia, nos primórdios de sua existência, quando engatinhava como Território Federal do Guaporé, criado em 1943, sendo intitulado Território Federal de Rondônia, em 1956 (uma homenagem ao Marechal Rondon, que faleceu em 1958, com 92 anos de idade), era uma rica região, formada apenas por dois municípios, quando da sua criação, um oriundo do Estado do Amazonas, Porto Velho, e o outro, oriundo do Estado de Mato Grosso, Guajará Mirim.
 
Era uma terra constituída por nobres e destemidas famílias (pois viviam competindo com as mais variadas agressividades que a natureza lhes empunhava), quase todas servindo às administrações do pequeno espaço amazônico, criado por Getúlio Vargas, para defender a faixa de fronteira que o Brasil formava com outros país da América do Sul.
 
Essas famílias viviam uma época em que você nem pode imaginar a riqueza, a fartura da terra, a alegria do seu povo que festejava, fervorosamente, a chegada dos trens e dos navios. Aqueles, vindo de Guajará Mirim, cheios de cereais, frutas, verduras, carnes de caça e de gente, que vivia pra lá e pra cá, dando conta dos seus negócios ou a passeio, enquanto que estes, os navios, da frota branca, Leopoldo Peres, Augusto Montenegro e Lobo D'Almada, traziam gente de todos os cantos do Brasil e do mundo para fixar residência, a negócio ou a passeio, com vistas a conhecer uma das regiões mais prósperas do norte do Brasil.
 
Não. Claro que nesse tempo não havia rodovias, nem a BR 364, outrora BR 29, nem a BR 319, a que liga Rondônia ao Amazonas. Da outra parte do Brasil, para se chegar ao Estado do Acre, ao Território Federal de Rondônia ou ao Amazonas, só mesmo via fluvial, férrea ou aérea. Sensacional era ouvir os apitos desses grandes meios de transportes, que eram tão importantes para os rondonienses como o ar que respiravam.
 
Pois bem! Muitas dessas famílias, as pioneiras, gentis e desbravadores famílias, deram de presente ao Território, os mais distintos filhos, alguns com formação acadêmica na Europa, como foi o caso da professora Eleide Ribeiro de Lima.
 
É sobre a vida desta culta, inteligente, prestativa, ecumênica, universal, versátil, elegante, humanitária, talentosa profissional e linda mulher, que eu vou escrever um pouco.
 
Professora Eleide Ribeiro de Lima, uma senhora distinta, elegante e de uma natureza gentil e nobre, difícil de se mensurar sua grandeza humanística e cristã. Paciente, branda, calma e tranquila: nas palavras, nos gestos, nas ações e nas atitudes. Tudo fazia com sutileza e sabedoria.
 
Eleide, uma grande amiga que eu tive em Rondônia, foi professora de francês, língua que falava fluentemente, em face do aprendizado que tivera quando da sua passagem pela Europa. Além de outras responsabilidades que assumiu no Território Federal de Rondônia, como professora, gestora e como técnica, inclusive tendo participado do Conselho Diretor da FUNDACENTRO - Fundação Centro de Ensino Superior de Rondônia, instituição da Prefeitura municipal de Porto Velho, que deu origem à Universidade Federal de Rondônia, Eleide foi a primeira Coordenadora do Núcleo de Educação da Universidade Federal do Pará (Comparado ao cargo de Reitora na região, pois representava o magnífico Reitor), uma extensão daquela Universidade Federal paraense que, por força de um convênio firmado entre o governo do Território Federal de Rondônia e a UFPa, veio se instalar em Porto Velho para promover a formação de pessoal para o magistério do sistema educacional de Rondônia.
 
Já vislumbrava à época o Governador Humberto da Silva Guedes, com o apoio do Secretário Jerzy Badocha da Secretaria de Educação e Cultura do Território, da qual eu era Subsecretário, criar as condições necessárias, estruturantes e organizacionais, para elevar o Território à categoria de Estado, não tendo sido à toa a criação de 5 municípios ao longo da BR 364 (Ji-Paraná, Cacoal, Pimenta Bueno, Ariquemes e Vilhena) durante a gestão do Governador Guedes, pelo Presidente da república Ernesto Geisel.
 
Lembro-me que, na ocasião, o professor Jerzy Badocha me chamou ao seu gabinete, e como eu estava envolvido nessa parte da instalação e funcionamento do Núcleo de Extensão da UFPa, ele me consultou sobre, em que local poderíamos instalar o Núcleo e quem poderia ser a Coordenadora da Instituição. O local escolhido foi a Escola Marechal Mallet, que funcionava no 5º BEC, espaço também conhecido por REO (Residência Especial dos Oficiais). À coordenação do Núcleo, sugeri o nome da professora Eleide Ribeiro de Lima.
 
Eleide, no meu entender, preenchia todos os requisitos para ser uma Reitora. Muita fidalguia, conhecimento profundo sobre os parâmetros da educação, mestre equilibrada, com psicologia, pedagogia, formação e experiência administrativa suficiente para exercer tão magnífica função.
Assim foi feito. Núcleo instalado, Coordenadora nomeada, passamos a providenciar o vestibular para seleção dos candidatos aos cursos que a UFPa iria oferecer aos estudantes de Rondônia, principalmente àqueles funcionários que já atuavam no magistério e que careciam de uma formação magisterial acadêmica compatível com suas responsabilidades e, naturalmente, dar-lhes à oportunidade da conclusão do curso superior, e respaldar sua ascensão profissional.
 
Aliás, começa aqui propriamente, a história da Educação Superior em Rondônia, muito embora algumas turmas de professores do Território já tivessem sido atendidas pela Universidade do Acre e pela Faculdade de Educação Física do Pará.
 
Sob a coordenação da professora Eleide, realizamos o vestibular e começamos as aulas nas dependências da antiga Escola Marechal Mallet, no 5 BEC, com direito a aula inaugural e tudo o que o protocolo nessas ocasiões demanda.
 
Algum tempo depois, o Núcleo de Extensão da Universidade Federal do Pará foi transferido para outras dependências, localizadas na Rua Paulo Leal.
 
Com as mudanças, o Núcleo já nas novas instalações, a professora Eleide foi substituída pela Professor Abanael Machado de Lima. Deixara ali, naquela instituição que passou a formar mão de obra qualificada para o magistério em Rondônia, sua marca de grande educadora, mulher inspiradora, cercada de virtudes e amor ao próximo, dando à instituição do Pará a configuração importante para o surgimento de uma nova fase educacional no Território Federal de Rondônia.
 
A professora Eleide Ribeiro de Lima, pelo que me consta, jamais recebeu uma homenagem do Território Federal de Rondônia, muito menos dos governantes do novo Estado da Federação. Ela, isto sim, caberia ser homenageada com a Medalha do Mérito Marechal Rondon. Tantos que fizeram tão pouco, já foram homenageados!
 
À ela, isso sim, a Secretaria de Educação do Estado e do Município de Porto Velho já deveriam ter batizado uma escola municipal ou estadual com o nome da pioneira e aguerrida mulher rondoniense Eleide Ribeiro de Lima, que dedicou muito de sua vida em benefício das crianças e dos jovens de Rondônia.
 
Pelo que me informou a amiga Yara Linda, a professora Eleide, passados alguns anos, foi residir na cidade do Rio de Janeiro, depois na capital do Pará, Belém, onde despediu-se desta vida, longe da terra que tanto amava e por quem muito fez pelo seu desenvolvimento social.









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