terça-feira, 21 de maio de 2024

Retalhos da história de Rondônia 4

 


Aos meus alunos do Colégio Carmela Dutra, com Carinho.

Quando fui professor no Carmela Dutra, estive trabalhando para uma turma muito especial. Esta turma era bem singular e extraordinária. Primeiro, pelos alunos que lá estavam: João Lobo, Sulivan, Edson Mugrabe, Paulo Ayres, minha irmã Vania, e a bem extrovertida e amiga que atendia pelo cognome de vovozinha e muitos outros. Esse pessoal trabalhava o dia todo e, ainda assim, encontrava energia e disposição para se deslocar de sua casa, depois de um dia duro de trabalho, para enfrentar 4 ou 5 horas de aulas (módulo da cada aula de 50 min). Eram assim, nos Colégios noturnos de Porto Velho. Cheios de alunos guerreiros.

Eu fui sempre muito amigo dos meus alunos, permitia que eles entrassem depois do horário, evitava que as aulas fossem pesadas e exigisse mais sacrifício para quem estava exausto e cansado.

Jamais iniciei uma aula sem os descontrair, quer seja contando uma anedota, quer seja conversando um pouco sobre o dia a dia nosso. Eles ficavam à vontade para se manifestarem por alguns instantes. Eu adotava esta pedagogia para descontraí-los. Só depois a aula era propriamente iniciada. Nesse grupo tinha gente de todo tipo, de todas as origens: poeta (Sulivan), jornalista Paulo Ayres), comunista (João Lobo), professora (Vânia)...

A disciplina era Estatística da Educação. O curso era Pedagogia. Curso noturno. Tivemos vários diretores. Bons diretores. Professora Léa, professor Ageu, professora Lygia, padre Zenildo... Na sala dos professores, esses (Inácio de Loyola, Álvaro Lustosa, Zenildo da Silva, José Valdir) conversavam sobre os alunos (admirados sobre a dedicação deles) e cada professor dava as informações necessárias para que a turma tivesse um atendimento programado conforme a demanda, que era muito heterogênea, diversificada e bem ampla.

Era uma turma que não havia necessidade do professor pedir para que deixassem as conversas paralelas, nem recomendasse que estudassem, que não faltassem as aulas e que dessem sempre uma olhada no que fora apresentado pelo professor anteriormente, dada a necessidade do embasamento que pediam as aulas subsequentes.

Espontaneamente, João Lobo era o líder da turma. Aluno e amigo nosso na sala de aula e um grande amigo fora dela. Educado, culto, prestativo, samaritano, adorava se prestar a socorrer os amigos, fora e dentro da sala, como quem estivesse o tempo todo a servir.

Do Sulivan, tenho a lembrança de que sempre chegava 2 ou 5 minutos depois da aula iniciada. Chegava quando eu estava nos preâmbulos. Ele sabia que, no início das aulas, eu tinha essa metodologia de deixar a turma à vontade para haver condições de aprendizagem. Afinal, ali todos haviam passado o dia trabalhando. Alguns saíam direto do trabalho para o Carnela Dutra,

Eles já eram por assim dizer, formados. Na verdade, precisavam do famoso canudo para prosseguir estudos, melhorias salariais, posições sociais, desenvolvimento pessoal, etc.

Da vovó, lembro-me que fazia a turma rir bastante, principalmente naquele momento em que eu deixava a turma descontraída, para se contextualizar na sala de aula.

Havia um aluno por nome Edmar Repouso do qual eu havia sido professor na Escola Samaritana, no 4º ano primário. A exemplo do Paulo Ayres (que foi Prefeito Mirim de Porto Velho, quando o Adaídes Batista, o Dadá, foi Governador), meu aluno na mesma época.

Certo dia na UNIR (eu era professor de Metodologia Científica no curso de Administração de Empresas), no primeiro dia de aula, na apresentação do professor e dos alunos à classe, lá estava o Edmar. E eu lhe disse em tom de brincadeira: Edmar, rapaz, você está me perseguindo? Foi meu aluno no primário, no colegial e agora no ensino superior? Ele riu, a turma se descontraiu e começamos a aula.

Não era fácil para eles. Teriam que aprender como ler textos, escrever, fazer monografias, fazer resumos, interpretar, estudar as regras da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que embora seja muito associada a trabalhos acadêmicos, a ABNT também define normas e técnicas para produtos industriais e prestação de serviços.

No Colégio Carmela Dutra, turma do magistério na qual eu lecionava Estatística da Educação, não era também fácil. Ainda bem que, ciente da necessidade do professor ser bem didático e saber ministrar as aulas com uma metodologia diversificada e ajustada à faixa etária e experiências dos alunos, a Estatística que eu lecionava, era uma disciplina atraente, cheia de gráficos e a aritmética era a matemática básica para sua compreensão.

Muitos desses alunos foram marcantes na minha vida de professor. O Sulivam chegava com seus poemas e me mostrava cheio de alegria. O João Lobo, sempre educado e gentil, apresentava-se uma figura política, culta e cheia de horizontes. Paulo Ayres carregava no semblante os sonhos que queria alcançar, (hoje, é um dos melhores jornalistas de Rondônia, tendo sido, inclusive, Assessor Chefe de Comunicação da Assembleia Legislativa de Rondônia. Ao lado do radialista Luiz Augusto, fez grandes reportagens para a Rádio Caiari, em várias áreas sociais, inclusive deu cobertura jornalística ao primeiro vestibular da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), quando eu exercia o cargo de Pró-Reitor Acadêmico.

São muitas as lembranças desta turma. Mas não vou me estender muito porque a leitura fica desinteressante, embora não possa deixar de evidenciar a dedicação e o grande sucesso que alcançou um dos meus alunos brilhantes, que havia feito o ginasial comigo no Dom Bosco, nosso querido Edson Mugrabe, hoje um grande e competente Engenheiro Florestal.

Quando estou em Porto Velho, ainda, feliz, encontro-me com alguns desses notáveis e extraordinários alunos. Lamentei muito quando soube que alguns já haviam partido para a morada eterna, como o amigo Sulivam, o amigo João Lobo, entre outros.
Estão com Deus. Deus seja louvado.

Sempre que vejo o filme "Ao mestre com carinho", LEMBRO DESSA GENTE QUERIDA.


 









Nenhum comentário:

Quando fores me amar

  Quando fores me amar, meu amor, me ama devagar, sem alarde e como que se eu fosse teu primeiro amor, porque, feito tal, me verás como a ...