terça-feira, 21 de maio de 2024

Retalho da história de Rondônia 3





SERÁ QUE JÁ ESQUECERAM A DIVA DA LITERATURA DE RONDÔNIA?
 
ELA ERA FRANZINA, CHEIA DE DOÇURA, MUITA SABEDORIA, INTELIGENTE E UMA BOA AMIGA
 
VOCÊ SABE QUEM FOI KLÉON MARYAN...
 
Nas décadas de 1970 e 1980, residia em Rondônia, na capital, uma senhora, de voz mansa, semblante angelical, quase que onipresente, com um pulmão apenas, uma sobrevivente, mas de olhar brilhante, penetrante, cheia de convicções sobre a beleza da vida, acalentando sonhos, para alguns, inatingíveis, mas para ela possíveis de serem realizados.
 
Antes de chegar a Porto Velho, já havia andado por alguns Estados do Brasil e, por onde esteve, revolucionava, deixava sua marca de estadista na área da cultura e semeava o amor, a união, sementes da boa poesia e do amor inspirado em Deus, Jesus Cristo.
 
Ela, em Porto Velho, revolucionou. A cidade ainda estava engatinhando nas letras, na cultura e nas artes. Mas havia gente que já escrevia versos e poemas, dos bons, romances com toda a estrutura dos romances de Raquel de Queiroz, Guimarães Rosas, Jorge Amado, Lígia Fagundes Telles e famosos contos sem muito perder para àqueles saídos das mentes de um Machado de Assis, Clarice Lispector, Florbela Espanca e Carlos Drummond de Andrade.
 
Nesse diapasão, estavam Edson Jorge Badra, Matias Mendes, Bolívar Marcelino, Silvio Persivo, Antônio Cândido, Samuel Castiel, Eunice Bueno, entre outros.
 
Tudo ela fez e em tudo ela mexeu, como se estivesse arando, preparando a terra para atear as sementes da literatura que ela queria que tanto vingasse nas terras férteis de Rondônia. Mesmo franzina, pequena e de poucos recursos, ela sabia que tinha que cumprir uma honrosa missão aqui na terra.
 
Nesse mesmo tempo em que ela se desdobrava em dez, eu, também, me desdobrava em dez para estar onde a educação e a cultura de Rondônia precisassem de um de seus filhos. Estava Subsecretário de Educação e Cultura, depois Pró-Reitor Acadêmico da Universidade, concomitantemente, Presidente do Conselho Estadual de Cultura, professor e ainda encontrava tempo para seguir a mestra, aquela que nos ensinava fazer muito com poucos recursos, a máxima de um bom administrador. Sim, estou me referindo à poeta, escritora, promotora cultural, contista e romanista Kléon Maryan.
 
Kléon, como era conhecida, nome artístico, mas no seu registro estava escrito Cleonice, foi quem criou em Porto Velho a União Brasileira dos Escritores-Seção Rondônia, para onde levou todos os que amavam a arte de escrever: poetas, jornalistas, escritores, advogados, pintores, estudantes, capistas, desenhistas, repentistas, etc. Era grande a quantidade de seguidores daquela simples, humilde e determinada guerreira, articulista e semeadora das letras, do bem e do amor.
 
Kléon, com o tempo, ficou conhecida e se articulava bem em todas as instituições constituídas, legislativo, executivo, judiciário e, também, sabia aceder com sabedoria àqueles que pregavam os ensinamentos de Jesus Cristo, as autoridades eclesiásticas.
 
A senhora dama da literatura, kléon Maryan, gostava de cercar-se de bons amigos e a eles reservava as mais distintas e pesadas responsabilidades. Deixou-me uma vez ser eleito Vice-Presidente da União Brasileiro dos Escritores - Seção Rondônia - UBE-RO, o mesmo fazendo com o amigo poeta Silvio Persivo, que chegou, inclusive, a ser Diretor Presidente da UBE-RO.
 
Todos os eventos de literatura, a Kléon exigia que seus amigos estivessem presentes. Um dia, a professora Nazaré Silva, diretora da área cultural da Secretaria de Cultura de Rondônia, promoveu um encontro de escritores no município de Ariquemes, cidade a 200 Km de Porto Velho. E lá estavam Kléon e o poeta, que a acompanhava, a convite, e com prazer, porque era ótimo fazer parte dos sonhos e das realizações culturais da grande poeta.
 
Sérgio Darwich, grande amigo de Kléon, certa vez, sobre ela, escreveu:
Os poemas de Kléon nascem como córregos de um trabalho central de poesia, manifestando sempre uma visão do mundo. Há sempre o desejo de realizar poesia, poesia-vida, poesia-viva fluindo ao longo da história e da existência.
 
Silvio Persivo, à sua grande amiga, assim se referiu: "Kléon tem, além disso, no que escreve, a marca de todos os gênios literários, qual seja, a simplicidade que faz com que suas palavras sejam claras, límpidas, embora a profundidade do que produz seja incontestável.
 
Quem não conviveu com a mais completa das letradas, escritoras de Rondônia e do Brasil, com certeza conheceu seu companheiro, a quem chamava com carinho, mestre. Certo dia, ao receber um exemplar dos seus livros a mim dedicado, lá estava uma amável dedicatória ao seu esposo:
"Ao Mestre Prof. Raimundo Leandro de Paulo" (em memória).
 
Kléon, depois que me mudei para Fortaleza, sempre me enviava exemplares dos livros que escrevia e lançava em Rondônia. Até quando se transferiu para Salvador, continuou a publicar seus livros e a me enviá-los, como quem a dizer: não esqueci de você. Amava os amigos.
 
É claro que a poeta Kléon Mayan deixou muita saudade. Ela revolucionou a literatura em Rondônia. Foi a pioneira. Arregimentou os letrados, poetas, escritores e jornalistas e os aficionados da poesia, das letras, para a grande caminhada da literatura rondoniense. Deu as orientações necessárias, iluminou o caminho, incentivou, criou oportunidades, deu asas à imaginação, lutou, batalhou e, por fim, deixou uma herança profícua e digna de sua vida, de um nome que ficou indelevelmente registrado nos anais da literatura de Rondônia.
 
É uma pena que Rondônia ainda não tenha lhe feito alguma homenagem. Mas aqui em Rondônia é assim: os vivos são pouco lembrados pelo que de bom fazem em prol da terra, o que pensar das homenagens aos que já partiram.










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