"Eu, que já perdi tanto e
tenho tanto ainda por perder, não me entrego, de jeito nenhum...e por quê?
Você, que tem perdas pequenas, insignificantes àquelas que um dia,
inevitavelmente, vai perder, por que já tão arrefecido e descoroçoado?
Veja a árvore que se recompõe a
cada outono, não desiste jamais de florescer.
O verde que doa à terra o tom da esperança, para que possamos lembrar do
amanhã, o faz por quê?
As águas que correm, mesmo sem
saber quando chegarão ao mar, arrebatando e suplantando quaisquer empecilhos,
um dia chegam a linha de chegada, dão-nos ou não o exemplo da persistência ante
os percalços e impedimentos?
Não, meu amigo, não se torne tão
insignificante só porque, numa única vez, sentiu e viu o lado amargo da vida...
Muitos outros momentos virão. Mas, à cada qual, é-nos dada a oportunidade de
nos fortalecermos. Portanto, arrefecer jamais!
Eu te digo: havia, certa vez, uma
agonia insana no intimo do meu ser ainda aluado, estupefato e atônito. E tudo
porque não compreendia a despedida daquela mão, daquele amor, que cuidava do
meu caminho e me dava todos os dias, os arreios antes que o sol amanhecesse. Mas
veio a noite e com ela, no seu aparecimento, tudo desapareceu.
Ah, você não sabe por que não teve
a terça parte, sequer, das perdas que já me presenteara a vida; e eu sigo por
quê? Pede-me o que me restou, para fazê-lo, mesmo que o porvir não se manifeste
melhor...Ora, meu amigo, e por que ficar? Pra quê? Os tombos e as perturbações
da mente, o juízo em desalinho, as mãos trêmulas, o esquecimento por vez severo
carrasco, em que pese, não me descartam à vida, prossigo, porque, não foi para
isso que eu vim, que eu nasci, que me fizeram?
Para prosseguir?
Eu sei que preciso acreditar que
só quando o último suspiro for dado, é que despediu-se de mim a última esperança
que guardava para o final. Então terei que ver-me, enfim, arremessado nos
braços de uma nova era, de uma nova vida, de outros sonhos, outro amor, outras viagens.
Só então, darei adeus. Mas cheio de calma. E do silêncio que fará meu coração e
conterá minha alma na hora da partida.
Não estranhe se houver um leve sorriso
nos meus lábios e uma imensa paz nos meus olhos. É que parti e nesse divino
instante me encontro nos braços do Pai.
(jose valdir pereira)