Porto Velho, 06/03/2003.
Recebi pelos Correios o último livro do
meu amigo José Valdir Pereira – Em Fragmentos. Valdir é escritor e poeta. É uma
das maiores autoridades em educação que conheço. Esses títulos acadêmicos têm
todos. Hoje reside em Fortaleza se deliciando com aquele lindo mar cearense,
que por sinal, damos logo de cara assim que abrimos a porta que dá para seu
quintal. Ele – o Valdir – tem essa sorte, seu quintal dá para o mesmo mar que
José de Alencar eternizou na sua prosa poética “Iracema”.
Valdir foi um dos construtores dos
pilares e do edifício educacional do estado de Rondônia. Onde quer que se vá
pesquisar sobre educação de Rondônia certamente se encontrará “o dedo” do
professor Valdir.
O nome do livro “Em Fragmentos” é
propício. É uma junção de vários comentários de artistas e intelectuais sobre a
obra de Valdir e fecha, na terceira e última parte, com várias poesias inéditas
do autor.
A poesia do prof. Valdir é resumida em
duas palavras, aliás utilizadas pelo prefaciador do livro, o Presidente da
Academia Cearense de Letras, Artur Eduardo Benevides : simplicidade e
autenticidade. Suas poesias têm momentos que quase são prosas, mas de repente,
valendo-se de um lirismo exacerbado, Valdir nos faz sentir aquela fisgada na
alma que só a poesia é capaz. No fundo o poeta Valdir é um sentimental, coisa
que ninguém é capaz de supor se não lhe conhecer, pois é dado a vestir-se e
comportar-se publicamente de forma sisuda, mas, ao contrário, numa roda de
amigos, joga conversa fora, degusta uma cerveja gelada, canta e toca violão, é
um apaixonado por Roberto Carlos mas não despreza a bossa nova nem a MPB, e
mais...até conta piadas. Mas isso não interessa.
“Em Fragmentos”, Valdir Pereira, vai fundo no lirismo e canta desesperadamente o amor, quase sempre, o amor perdido; esse que nos faz sentir que o homem é um só nessa vida e que só uma certeza pode ter: um dia morrerá e depois de algumas eras sequer lembrarão que existiu, como bem dizia Carlos Drummond de Andrade quando alguém lhe perguntava qual a importância da sua obra.
A poesia de “Em Fragmentos” é esse canto desesperador e agoniado do amor perdido. E expressa isso de forma desabrida, sem pudor, sem medo da galhofa...seu canto é um canto de peito aberto, sem temor de chorar o amor perdido e de mostrar sua angústia e agonia a seu sofrimento solitário. Eis um exemplo:
“Da Luz à Escuridão”
Apenas a noite por companhia.
Ruptura inesperada.
Atitude impiedosa
Só pode ser coisa de quem amarga uma dor
sofrida,
Não esquecida.
Veneno de uma vida.
Você se foi como veio: sem rumo, do
vazio, cheia e perdida.
Eu, com isso, da luz à escuridão!
Solidão.
O poeta Valdir se entrega a poesia/sentimento de forma crua e sincera:
“A ti, porém, darei minha alma,
dar-te-ei até o sangue do meu coração,
mas não removas dos meus sonhos a
esperança do teu amor,
que acalento, dia após dia, contendo a minha dor.”
O mais brilhante na poesia do Valdir é
sua coragem de cantar seu amor desesperado por alguém que partiu ou por alguém
que não vem – sina errante dos amantes da terra.
A poesia do Valdir lembra aquela antiga
canção que quando criança escutava na Rádio Rio Mar de Manaus: “ Poema é a
noite escura de amargura/poema é aluz que brilha lá no céu/poema é ter saudade
de alguém/que a gente quer e que não vem...Poema é o cantar de um passarinho
que vive ao léu, perdeu seu ninho sem a esperança de encontrar/Poema é a
solidão da madrugada/É um ébrio triste na calçada/querendo a lua namorar.” Meu
coração apertava quando ouvia essa música, e acho que foi ai, amigo Valdir, que
decidi também trilhar essa sina triste de escrever poesia.
E por falar em música, podemos muito bem amigo Valdir, quando nos juntarmos para tocar violão, na calçada da minha casa ou na beira da piscina da casa do amigo Vianney, tentar uma parceria e inventar uma cançãozinha – como dizia o poeta Vinícius – para tentar amainar essa mágoa, destino de todo poeta, de carregar – devido a essa incessante e ingrata ânsia, de sempre e sempre buscar o inexistente pleno amor – uma alma fragmentada.
Dada (Adaídes
Batista dos Santos)
Jornaslista, poeta e compositor.
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