Do amigo Vitor Hugo
Meu caro Valdir,
Porto Velho, 13/12/ 2003
(meu passado ex-futuro Secretário adjunto
da SECET!!!)
Recebi ontem com agrado e também com
surpresa sua última produção literária pela SCORTECCI, da qual só conheço
coisas boas.
Obviamente ainda não li, mas prefiro lhe
retribuir logo os votos de feliz
natal próspero ano novo.
Não li: não é bem assim, porque folheei
de ponta a ponta, título por título, me detive sobre as cartas, relevando a do
Pasquale, muito mais amigo do que eu sentisse na década de 70. Passei um por um
os títulos das poesias, para as ler posteriormente. Pelo que conheço de sua
produção poética, me antecipo de que certamente é coisa boa o que está em
minhas mãos.
Assim mesmo, me detive e meditei sobre a
definição que Mário Quintana dá da amizade. Lembro minha primeira amizade com
um companheiro de ginásio (não de sala) no colégio salesiano de Turim na década
de 30: no meio do curso ginasial eu fui para o seminário salesiano e ele,
Carlos Saporiti, só foi para outro seminário no final do curso ginasial.
Amizade! Cheguei a fazer longas poesias – dodecassílabo, ainda me lembro – por
uma autêntica e singela amizade. Já padre, eu e ele, certo vez indo à Itália,
fui passar uns dias na paróquia dele. Morreu muito cedo.
Valdir,
Sobre amizade eu li farta literatura, a
partir do Antigo testamento. Li literatura sobre amizade dos séculos XII
(Aelredo de Rielvaux, que escreveu numerosíssimas obras sobre a amizade. Estou
lendo ”A amizade espiritual”, obra clássica – não piegas – desse autor). Era o
século em que a amizade estava em alta na “bolsa de valores” (isso mesmo!).
recentemente, foram publicados documentos inéditos de Bernardo de Claraval, do
século XI: estão em evidência trabalhos e pendores sobre e pela amizade.
Naturalmente, porém, o papa da amizade continua Aelredo, inglês.
Em meado da década dos anos 90 fiz uma
grande amizade. Acho que era amizade. Era meu homem de confiança.
Decepcionou-me: há seis meses, imperceptivelmente, foi transferindo dinheiro
das minhas contas bancárias para as contas dele. Quando me percebi, o valor
totalizava mais de R$13 mil.
Ainda assim, continuo pensando que a
amizade é mais que amor, só que no meu caso, ela morreu. Pudera, não!
Perguntar-me-á por que me ocupei tanto da
amizade a ponto que a frase colocada por você em “Fragmentos de cartas ao
poeta” me chamou tanto a atenção. Explico: em 2000 fiz de novo a ADESG, mas em
convênio com a UNIR para obter o título de pós-graduação. O tema geral para a
monografia era “Segurança Pública” porque os estagiários eram quase todos
fardados ou da Polícia Civil. Cada um escolheu um sub-título: aproveitando dos
cochilos constantes da CNBB e do próprio Vaticano (que não é para mim o mesmo
que Igreja e Evangelho!) escolhi “Segurança Pública a partir dos excluídos de
entre os excluídos, isto é a presença de homossexuais na sociedade brasileira”.
Você deve estar sabendo da homofobia
nacional. Como estudei o assunto a fundo, posso lhe falar também do Ceará
(Fortaleza). Em Porto Velho, nem se fala: por causa disso, acabei duas vezes no
hospital. A monografia virou livro de mais de 200 páginas com farta
bibliografia: deve sair em 2003.
Nesse trabalho, a amizade é destrinçada
com atenção especial.
Tudo isso, por causa de sua citação de
Quintana... Imagine o resto.
Um abraço,
Vitor Hugo
Historiador, membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e de Rondônia e membro fundador da Academia de Letras de Rondônia. Foi Reitor da Universidade Federal de Rondônia e Secretário de Estado de Cultura, Esportes e Turismo de Rondônia. Uma das mentes mais brilhantes que a Igreja já teve. Autor de um dos principais clássicos da história regional “Os desbravadores”
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