SOBRE A AMIZADE
A reflexão do exercício da amizade entre o Cravo e a Rosa
Uma conversinha, bem simples. É sobre a amizade. Duas flores, a rosa e o
cravo, em um dia de sol, depois de uma chuvinha fina, garoa da noite e muitos
afagos das borboletas e dos beija-flores.
Excepcionalmente, não falavam de outras flores e nem de coisas fugazes e
triviais. Dedicavam a compreender as sutilezas da amizade.
Depois de dedicarem parte do tempo às suas vaidades, cada uma à sua
maneira, dando a si o zelo e os cuidados estéticos e éticos exigidos pelo ser
chauvinista e narcisista intrínseco às suas idiossincrasias, a rosa, mais
esbelta e decisiva como sempre, falou:
- sabe querido cravo, você já chegou a entender algumas vezes, como as
pessoas exercitam a amizade entre elas? Será que este sentimento é espontâneo
entre elas ou por detrás de cada gesto e atitude há uma série de interesses?
Será que a amizade, no caso, é praticada de forma gratuita e em nome do amor?
O cravo, muito reflexivo, demorou a responder. Olhou bem calmamente nos olhos
da rosa, e disse-lhe:
- Difícil saber, amiga rosa. Às vezes, quando vejo uma de nós fazer
parte de um gesto amigo, quando oferecem flores, uns aos outros, fico
imaginando a quantidade de carinho, afeto, sinceridade, lealdade, paz e amor
(ingredientes da amizade) que estamos levando para alguém.
Eu sempre falo para minhas amigas, quando vão fazer parte de um buquê,
que nossa vida útil é diretamente proporcional ao tanto desses ingredientes que
nos acompanham.
Se pudéssemos entender a linguagem delas e elas a nossa, poderíamos
dizer-lhes de quão é fácil ser e ter amigos e o que é realmente a amizade.
E tudo se resume na palavra amor. Não podemos dizer que somos amigos e
temos amigos sem que entre nós haja amor. Amor ao próximo. O exercício da
amizade não consiste só em ter a companhia nas festas, um aceno, um abraço, um
presente de aniversário... Ser amigo é conhecer o amigo.
Você não pode ser amigo de alguém sem conhecer a fundo seu amigo. Suas
necessidades, deficiências, qualidades, gostos e virtudes.
E, principalmente, suas carências e de como gosta de ser tratado como
amigo. É que assim, quando o amigo não quiser lhe ouvir, você saberá calar;
quando for hora de afagos, conselhos, ali você estará, capaz de entender o
feeling que, àquela hora, toma conta da alma e do coração do amigo.
O amigo está sempre vivo e presente em nossos pensamentos, porque somos
responsáveis pelo bem-estar de quem amamos.
Amamos? Sim. A amizade existe quando é regada pelo amor. Não só amamos a
quem damos e de quem recebemos carícias e horas e horas de amor carnal.
Amamos também nossos amigos.
- Jose Valdir Pereira –
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