O alvorecer tem uma cumplicidade enorme com o meio rural e muito alheio ao mundo urbano. Na cidade, os raios do sol caem sobre os edifício, asfalto e algumas árvores, sobras da intolerância humana.
Com
o campesino, o sol nasce dengoso, ainda sob o carinho de algumas nuvens, dando
ao orvalho a possibilidade de trocar carícias com as folhas, as flores e com a
relva dos campos.
Só,
aos poucos, quando as borboletas e os beija-flores começam a espargirem-se sob
o colorido das flores, à procura do prazer que lhes suscita o néctar, alimento
divino dessas pequenas criaturas de Deus, é que o astro celestial, o sol, se
mexe mais apressadamente, como se quisesse alcançar a lua, que sempre está fora
do seu alcance.
Ainda
acanhados, alguns raios dão aos demais animais do campo o sinal de que um novo
dia desponta e que a natureza os aguarda, os espera, para a prazerosa simbiose
existencial, só reservada aos que seguem as leis de Deus.
Enquanto
isso, na cidade, os seres que ali vivem, se espreguiçam, não dão conta de contemplar
a natureza porque não a têm mais, apenas se dão conta dos espigões, do mormaço
brotando do asfalto quente, e do corre corre dos carros, pra lá e pra cá, como
se a vida fosse só isso: um corre corre, pra lá e pra cá. De repente, esses uns
nem enxergam o porvir de um novo dia, não se deslumbram com o alvorecer e quase
lhes passa despercebido o crepúsculo, o sol que se despede, embora cheio de
esplendor, mas como se a ninguém estivesse a acenar.
Ou
seja: a cidade desapropria o homem da sua natureza divina; no campo, o homem
alimenta sua natureza divina com o maná fluído das mãos de Deus.
Para
os seres campestres, os viventes do campo, tanto o alvorecer como o ocaso são
manifestações divinas, acenos do Deus Pai todo poderoso, tomando-lhes a bênção
que pedem nesse momento de sagrada contemplação.
No
campo, por onde anda o morador admira e colhe uma flor. Na cidade, o morador dá
chutes em uma pedra ou quebra o galho de um arbusto, indefeso e pacífico, que
lhe oferece o verde e a beleza que tem, para amenizar os percalços do seu dia a
dia.
Embora
more na cidade, confesso, tenho as manias de um campesino, vivo na cidade como
se vivesse no campo, porque sou, na verdade, um genuíno campestre.
- jose valdir pereira -
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