quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Era assim que vivia a cidade, há muito tempo atrás...

 


 

O trem chegava sempre às 6 horas da manhã...

muitos já o esperavam naquele horário costumeiro...

trazia em seus vagões a fartura que a região - seringais, colônias, sítios e beiradão, lugares por onde passava, produzia...

a alegria de vê-lo chegar era inenarrável; e ouvir seus apitos, a partir da última curva da estrada, que chegavam como uma canção de amor...Um cântico dos cânticos...Uma prece, exaltação, louvor...De longe, já se avistava a fumaça preta que soltava, levada pelo vento, que a dispersava no céu azul por sobre o rio, este de águas barrentas e caudalosas, que corria, suavemente, para um dia chegar ao imenso mar...Ele, o rio, como ela, a cidade, pareciam intocável...Agora sei que não eram intocáveis...

Às vezes, uma chuva fina saudava a chegada do trem...outras, o cheiro da natureza florida e perenal dava-lhe boas-vindas... aqueles trens, que chegavam a cidade com frequência, vinham cheios de alegria...e representavam uma das maiores conquistas dos homens pioneiros de antanho...Agora sei que havia, também, acordes de tristezas em seus apitos...tão árdua a tarefa de construir o caminho e tão fugaz seu fim...

Mas não era só os trens, com seus vagões cantarolando por sobre os trilhos a inesquecível melodia que não se aparta dos nossos ouvidos, que davam à pequena cidade alegria e elevação à alma de sua gente.

Uma vez ou outra, a qualquer hora do dia ou da noite, um apito vindo de bem distante se ouvia...sabia a população da pequena cidade que estava prestes a chegar um navio vindo de Belém do Pará, com escala em Manaus-Amazonas, E lá estava outra alegria tomando conta do coração daquela gente, cujo maior e melhor prazer de suas vidas era festejar a chegada dos trens e dos navios...Em certas épocas, trens e navios davam grandes e inigualáveis alegrias, porque os navios, a exemplo dos trens, chegavam mais vezes dentro do mesmo mês...

A cidade se orgulhava desses históricos eventos que lhe ofereciam, os trilhos e as águas barrentas do seu fabuloso rio...E não era pra menos...A cidade era rica e se orgulhava do seu patrimônio, de suas matas virgens, do seu rio esplendoroso, de sua estrada de ferro e da riqueza que lhe asseguravam as águas, o solo, as florestas, sua fauna...

A cidade era alegre. Sua gente a fazia alegre. Tudo ali havia. Nada lhe faltava...

A cidade e sua gente vivia muito feliz com as dádivas da natureza. Da abençoada terra.

Era assim que vivia a cidade. Era assim que vivia sua gente.

Há muito tempo atrás, era assim.

- jose valdir pereira -



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