O trem chegava sempre às 6 horas da manhã...
muitos já o esperavam naquele horário costumeiro...
trazia em seus vagões a fartura que a região - seringais, colônias, sítios
e beiradão, lugares por onde passava, produzia...
a alegria de vê-lo chegar era inenarrável; e ouvir seus apitos, a partir da
última curva da estrada, que chegavam como uma canção de amor...Um cântico dos
cânticos...Uma prece, exaltação, louvor...De longe, já se avistava a fumaça
preta que soltava, levada pelo vento, que a dispersava no céu azul por sobre o
rio, este de águas barrentas e caudalosas, que corria, suavemente, para um dia
chegar ao imenso mar...Ele, o rio, como ela, a cidade, pareciam
intocável...Agora sei que não eram intocáveis...
Às vezes, uma chuva fina saudava a chegada do trem...outras, o cheiro da
natureza florida e perenal dava-lhe boas-vindas... aqueles trens, que chegavam
a cidade com frequência, vinham cheios de alegria...e representavam uma das
maiores conquistas dos homens pioneiros de antanho...Agora sei que havia,
também, acordes de tristezas em seus apitos...tão árdua a tarefa de construir o
caminho e tão fugaz seu fim...
Mas não era só os trens, com seus vagões cantarolando por sobre os trilhos
a inesquecível melodia que não se aparta dos nossos ouvidos, que davam à
pequena cidade alegria e elevação à alma de sua gente.
Uma vez ou outra, a qualquer hora do dia ou da noite, um apito vindo de bem
distante se ouvia...sabia a população da pequena cidade que estava prestes a
chegar um navio vindo de Belém do Pará, com escala em Manaus-Amazonas, E lá
estava outra alegria tomando conta do coração daquela gente, cujo maior e
melhor prazer de suas vidas era festejar a chegada dos trens e dos navios...Em
certas épocas, trens e navios davam grandes e inigualáveis alegrias, porque os
navios, a exemplo dos trens, chegavam mais vezes dentro do mesmo mês...
A cidade se orgulhava desses históricos eventos que lhe ofereciam, os
trilhos e as águas barrentas do seu fabuloso rio...E não era pra menos...A
cidade era rica e se orgulhava do seu patrimônio, de suas matas virgens, do seu
rio esplendoroso, de sua estrada de ferro e da riqueza que lhe asseguravam as
águas, o solo, as florestas, sua fauna...
A cidade era alegre. Sua gente a fazia alegre. Tudo ali havia. Nada lhe
faltava...
A cidade e sua gente vivia muito feliz com as dádivas da natureza. Da
abençoada terra.
Era assim que vivia a cidade. Era assim que vivia sua gente.
Há muito tempo atrás, era assim.
- jose valdir pereira -
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