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domingo, 27 de setembro de 2020

Um adeus ao primo-irmão José Airto Leite, mais uma vítima da COVID

JOSE AIRTO LEITE, DEIXOU SEMENTES DA ALMA, DO CORPO, DA MENTE E DO CORAÇÃO NAS TERRAS DE RONDÔNIA E NAS TERRAS DO AMAZONAS, TERRAS QUE MUITO AMOU E POR QUEM MUITO FEZ E VIVEU.
Desde ontem, 24 de setembro, querendo vencer o abalo que me causou a notícia, com os olhos severamente marejados pelo choro da dor, hoje já o mais dos incrédulos, todo agnóstico e absorto nos pensamentos que podem dar a possibilidade de entender os desígnios de Deus, tentando escrever algo sobre, mas as ideias em abstração, não obstante ainda consternado, não posso deixar de contar um pouco de sua história
Aliás, por causa, talvez, de um choque atrás do outro, com o coração despedaçado, vão-se as ideias, as letras e a possibilidade do texto, das frases, dos poemas, da crônica, da escrita. Em dezembro, partiu meu pai, talvez tenha sido levado pela Covid. Em junho próximo passado, a Covid levou meu tio. E agora, meu primo.
O que mais tenho na vida, penso que seja uma das riquezas de todos, é uma infinidade de primos, e eu os classifico assim: primos muito próximos, os próximos, os distantes e aqueles que só se sabe que existem.
Um dos primos que se encaixa na vertente dos "muito próximos", era meu amado e querido primo José Airto Leite. O Airto era, na verdade, meu primo carnal. Ou seja, éramos primos irmãos.. Para quem não sabe, primo carnal é o grau de parentesco entre duas pessoas cujas mães ou pais são irmãos entre si. No caso, meu pai, era irmão da mãe do Airto e minha mãe, irmã do seu pai.
Então, vivíamos e nos relacionávamos como irmãos. Quando chegamos do Ceará, não demorou muito para os pais do Airto chegarem também. De repente, chegaram: tio João Leite e tia Francisca com os filhos.
Na minha família, eu e mais 6 irmãs. Na família do Airto, ele e mais 3 irmãs.
O Airto terminou o ginásio aqui no colégio Carmela Dutra e, em seguida, foi fazer o colegial na Escola Técnica Federal do Pará. Depois que terminou o ensino técnico, fez vestibular e passou na UFPa para o curso de Engenharia Civil, vindo a se formar alguns anos depois, retornando para Porto Velho, tendo seu primeiro emprego em Rondônia, na CAERD, companhia de Águas e Esgotos de Rondônia, servindo em Guajará Mirim.
Eu fiz o ginásio no Colégio Dom Bosco. Depois fiz o Colegial no Colégio do Carmo em Belém, tendo que voltar para Porto Velho, conclui o 3º ano no Colégio Presidente Vargas. Logo cedo, fui contratado pelo governo do Território de Rondônia como professor regente, onde minha primeira experiência no magistério foi na escola Samaritana. Depois, segui em frente, estudando e trabalhando, sempre atuando no magistério e como técnico no governo.
Certo dia, soube que o Airto estava de malas prontas para ir residir em Belém. Disse-me que não estava gostando do trabalho que executava em Rondônia (e não era pra menos. O que estaria fazendo um engenheiro civil na CAERD?).
Como nossa amizade era muito grande, desde crianças, ele era como se fosse meu irmão maior, aquele que cuidava de mim, não recebi muito bem a notícia de sua mudança para o estado do Pará. E falei com ele. Ofereci-me a ajudá-la no sentido de conseguir um trabalho na Secretaria de Interior e Justiça, recém criada, no Departamento de Interior e Justiça da Secretaria, onde cabia o trabalho de um engenheiro. E expliquei que ele era o único parente presente em Rondônia com quem eu podia contar, e eu não gostaria de vê-lo distante de todos nós, dos seus amigos, dos seus pais, enfim, de todos. O Airto era muito querido. Chegou a jogar no Moto Clube, um dos grandes times de Porto Velho, tinha uma quantidade enorme de amigos, amizades consolidadas desde o tempo da casa dos estudantes, em Belém, mantida pelo Governo do Território, onde ele ficou os anos de faculdade, chegando a ser, inclusive tesoureiro, contemporâneo nessa época do Anibal (Oftalmologista), Viriato Moura (Ortopedista), Almerindo Brasil (obstetrícia e ginecologista), entre outros.
Pedi que me trouxesse o currículo. Assim ele o fez. De posso do seu currículo, como eu era subsecretário de educação de Rondônia, com livre acesso ao secretário de administração, dirigi-me ao amigo Teobaldo de Monticello Pinto Viana, secretário de administração da época, que havia entrado no lugar de Chiquilito Erse, expus a situação e propus a contratação do Airto, para ser lotado na Secretaria de Interior e Justiça, cujo Secretário era o amigo Arquelau de Paula.
Argumentei com o Teobaldo que Airto era um rondoniense, recém formado em Engenharia Civil, que estava deixando sua terra porque não encontrara a valorização profissional devida. E, naquela época, Rondônia precisando de mão de obra qualificada, não podia se dar ao luxo de dispensar um profissional da envergadura do Airto que, de certa forma, teria tido sua formação de engenheiro custeada pelo Território, já que morou, enquanto fez o curso, na Casa dos Estudantes de Rondônia, à época denominada Casa Milton Lima, nome esse decorrente do último representante do Governo do Território, no Pará, o Sr. Milton Lima, ter ocupado o imóvel que servia como sede da Representação do governo de Rondônia, no Pará.
Pois bem. Airto foi contratado e lotado no departamento de interior e justiça da Secretaria de mesmo nome. Nesse departamento, era fundamental, pelas suas competências, a existência de engenheiros civis. À LUZ DE SUAS QUALIDADES TECNICAS, Airto foi logo nomeado pelo Secretário da pasta como diretor do departamento.
Depois, devido sua grande atuação na secretaria, foi convidado pelo prefeito Sebastião Valadares para ir trabalhar na Secretaria de Obras do município de Porto Velho. Nem bem chegou, em pouco tempo, ao lado do Secretário Hiroyuki Yamaguchi, Airto já era subsecretário de Obras, onde fizeram um excelente e majestoso trabalho, época em que o prefeito Teão Valadares recebera a missão de transformar, equipar, melhorar a cidade de Porto Velho, já que ela era a capital do novo Estado da Federação.
Com a eleição do Jerônimo Santana para governador de Rondônia, Tomas Correia, seu vice-prefeito, assume a prefeitura e nomeia o engenheiro Airto para ser seu Secretário de Obras. Porto Velho, com a Secretaria de Obras sob o comando dos dois, Yamaguchi e Airto, teve um avanço muito grande e de qualidade. Asfaltamento e abertura de ruas, com o surgimento e a expansão dos bairros, melhoria dos logradouros públicos, construção de postos e de escolas municipais. Muito fizeram. Depois, com a saído do Yamaguchi, Airto, que parecia mais um peão do que o Secretário de Obras, já que gostava de estar na frente dos trabalhos, nos bairros, nas ruas, pois não era Secretário de gabinete, não poupou esforços para dar à Porto Velho o título de uma das capitais que mais obras eram executadas, com vistas à melhoria da qualidade do povo portovelhense.
Ainda no Município, Airto foi presidente da ENDUR, Empresa de desenvolvimento Urbano de Porto Velho, quando comandou as primeiras construções dos conjuntos habitacionais da cidade.
Mas, como a política tem um problema muito grande para conviver com os cidadãos competentes e que só sabem trabalhar, trabalhar e trabalhar, Airto, de repente, se viu obrigado a sair do município e foi trabalhar no DNER, hoje DNIT, tendo chegado, inclusive a ser chefe da instituição.
Em seguida, Airto recebeu convite para trabalhar no DNER do Amazonas, no município de Humaitá, tendo se transferido para a região vizinha.
Não muito demorou e foi nomeado em 2002, chefe da Unidade da Superintendência do DNIT, em Humaitá, cargo que exerceu até o dia 24 de setembro último, quando veio a falecer. E como foi sua passagem pela Unidade do DNIT no município de Humaitá? Só hoje apareceu alguém para se ter uma ideia do quanto trabalhou e se dedicava à missão que os homens de bem lhe confiavam. Ao ver o ministro da Infraestrutura, Tarcísio, atuando, pensava: esse aí imita o meu primo Airto nas missões que lhe são atribuídas pelo Presidente da República . Por coincidência, Tarcisio era chefe do Airto, já que meu primo era chefe da Unidade do DNIT em Humaitá-AM. Airto nas terras de Humaita trabalhou, incansavelmente, executando projetos de construção e recuperação de pontes, asfaltamento de parte da BR 319, recuperação de trechos da BR 319, sentido HUMAITÁ > MANAUS, socorreu comunidades isoladas nos períodos de chuvas, e, seu sonho era participar do grande projeto de repavimentacão da BR 319, ora sendo iniciado pelo ministro da Infraestrutura do governo Bolsonaro, Tarcísio Gomes de Freitas.
Essa é um pouco da carreira acadêmica e profissional do Engenheiro José Airto Leite. Grande e amoroso pai, esposo e avô, irmão, filho e amigo. Airto era gentil, culto, sorridente, responsável, altamente profissional (não deve ter tido nesses quase 40 anos de serviços, nenhuma falta ao serviço; era o primeiro a chegar na frente de trabalho e o último a sair, sua esposa Celina Braga Leite, que o diga), um homem honesto, fiel, leal, probo, competente e um cidadão que amava o que fazia, fizesse sol, houvesse chuva ou fossem os recursos escassos ou minguados.
Conseguiu formar seus dois filhos, Bruno e Raquel, e um dos netos já havia lhe dado o prazer de ter sido classificado no ENEM deste ano para o curso de engenharia, porque este neto queria seguir a carreira do avô. E vai seguir. E, com certeza, o representará muito bem.
Era e sempre foi o esteio da família. Suas irmãs, Margarida, Tânia e Liduina, tinham-no como uma líder, um conselheiro, um amigo. E seus pais, babavam de orgulho pelo grande filho que tinham, e se enchiam de felicidade e de alegria, comemorando as conquistas e as realizações do Airto.
Fui um sobrinho muito próximo dos seus pais, da sua mãe, principalmente, tia Francisca, que me contava como lutaram, ela e o esposo, meu tio João, para manter o Airto estudando em Belém, principalmente antes de ele morar na casa dos estudantes.
E o Airto retribui todo o sacrifício dos seus pais para vê-lo formado, através da posturas que sempre assumiu, de um homem probo, honesto, trabalhador, integro e digno de ser querido, respeitado e amado por todos, não só na sua profissão, mas no seio social que fez parte, na Maçonaria, na Associação dos engenheiros, no Quadro de servidores do DNIT, entre os empresários da construção civil e, principalmente, entre os seus familiares.
Em vida, não teve muito reconhecimento. Claro. Rondônia, é hoje governada por gente nos três poderes, que não sabe a história de Rondônia, não reconhece a batalha dos seus pioneiros para construí-la e não conhecem quem são os heróis da terra e nem o quanto de suor, lágrimas e sangue derramaram para que hoje, vivessem nos gabinetes, ganhando pomposos salários, e o que é pior, fazendo pouco ou quase nada pela terra que os acolheu, com raras exceções, é claro. A prova disso é que Rondônia, a despeito, por obra e graças de tudo que semearam os destemidos pioneiros, segue em frente, porque é uma terra rica, e ainda conta com alguns rondonienses e rondonianos que a amam e que por ela, pela amada terra, tem assaz respeito.
Outro dia, conversei com o jornalista Adaides Batista sobre esses últimos acontecimentos relacionados ao falecimento de alguns pioneiros de Rondônia, Euro Tourinho, Emanuel Pontes Pinto, José Airto Leite, entre outros, que vão se despedindo, e nos deixando mais pobres e tomados pela grande dor que maltrata a humanidade: a dor da perda de nossos entes, amados e queridos. E comentávamos sobre o reconhecimento dos governantes quanto à grande obra que esses homens realizaram.
Faz tempo que desejo que o Cel. Humberto da Silva Guedes, um dos melhores governadores de Rondônia, receba uma homenagem do Estado de Rondônia, mas a política não vê importância nenhuma nos grande feitos desse que tem merecido todas as homenagens do povo de Rondônia. O médico Jacob Atallah, o professor Amizael Gomes da Silva, o Vitor Hugo, o Rochilmer Rocha, o Esron Penha de Menezes e tantos outros, já estão esquecidos, lembrados apenas por uns poucos contemporâneos que ainda insistem em viver apregoando seus feitos.
Eu espero que o legislativo Mirim de Porto Velho, como dizia o amigo Amizael, se referindo à Câmara Municipal dos Vereadores, o governo do Estado e a Assembléia Legislativa, lembrem-se de homenagearem esses grandes homens que deram suas vidas para que Rondônia se tornasse uma das unidades da Federação mais prósperas e alvissareiras, como o é o Estado, estando hoje em um lugar de destaque no cenário, regional, nacional e mundial.
Embora espere esse pouco desses tantos, eu já via que meu primo era um homem realizado, feliz e satisfeito com a obra que construiu. Ele me dizia que isso lhe bastava. As demonstrações de carinho e de respeito de todos que trabalharam sob sua gestão, orientação e comando, na Secretaria de Interior e Justiça do Estado, na Secretaria de Obras e Serviços Públicos de Porto Velho, na ENDUR, no DNER e no DNIT.
Fiquei estupefato, chocado e sem chão, quando recebi a noticia da atrocidade que lhe fizera a Covid. Ainda está me custando acreditar. E não me sai da cabeça, aquela figura, alegre, gentil e camarada do meu primo amado.
Mas, fazer o quê, se o homem lá de cima quis! Agora, é pedir a Deus que o acolha com todo amor que lhe é devido e o recompense com as graças e o carinho que merece, pelo tanto que honrou o nome de Jesus Cristo, quando ofereceu aos seus filhos e netos a melhor educação, aquela inspirada nas escrituras e nos livros sagrados de Deus.
Adeus, primo.
jose valdir pereira



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