sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Quando eu morrer


Peçam para a funerária deixar que haja um sorriso no meu rosto. É o sinal de que estou debochando de vocês por terem ficado nessa luta desesperada para se manterem vivos e atrás de uma felicidade, alegria utópica e fugaz.

Nada de flores viçosas, lindas e perfumadas. Quero flores murchas e sem cor para representar o que restou de quem tanto lutou por uma vida digna e abençoada.

Se quiserem chorar, tudo bem. Mas vou logo avisando: não adianta de nada. Sei que choro não levanta defunto e não adianta de nada.

Podem beber a vontade vinho, licor e champanhe. E celebra minha partida com um graças a Deus. É que a morte pra mim é um alívio. Livrei-me da hipocrisia de vocês e da falsa amizade.

Se quiserem cantar, estejam à vontade. Mas àquelas que maldizerem o amor não correspondido, o amor interesseiro, o amor nefasto, o amor bandido.

E na hora em que o caixão, se é que vai haver pode ser uma rede também, baixar os sete palmos, cantem os parabéns. Nesta morte querida, muitas felicidades na outra vida, que esta não valeu nada.

E olhem ao redor pra ver se tem algum amigo. Se estiver sério e cabisbaixo dando graças a Deus por eu estar morto, é um amigo. Se estiver lacrimejando, é falso. Quer dizer, nem com a morte soube ser autêntico.

E na lápide, coloquem. Graças a Deus me livrei de vocês.
- jose valdir pereira -

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