O livro chegou pela primeira vez às minhas mãos,
pelas mãos da minha mãe.
Ela me disse: - olha, filho, o que eu encontrei no
chão da calçada, perto de uma lixeira. Acho que não foi parar na lixeira porque
ali não é lugar para um livro.
E continuou:
- A capa, com essas figuras de criança lendo outros
livros, me deu a ideia de que você iria gostar de lê-lo ou, pelo menos, ver as
figuras que ele contém.
Até aquele dia, eu não havia lido nenhum livro.
Havia em casa apenas um livro de capa preta, esse já muito surrado. Era um
dicionário da editora FTD, dos irmãos maristas.
Fiquei feliz da vida e fui, logo, de imediato,
folhear o livro e ver o que ele trazia de bom.
Eram várias histórias. Uma delas me chamou a
atenção. Marquei-a com uma tira de papel para ler depois, com mais calma e
tempo.
Enfim, à tarde, quando já havia me desincumbido dos
meus afazeres, peguei o livrinho e fui direto àquela página na qual estava a
história selecionada. A história tinha o título de "O que querem ser as
crianças quando crescerem", e começava assim:
Era uma vez um menino e uma menina que gostavam
muito de apostar quem havia conhecido, até o dia seguinte, mais palavras novas,
quem saberia contar uma fábula e quem sabia perguntar e responder uma
adivinhação, tipo: o que é o que é, nasce em pé e corre deitado.
O menino chamava-se José e a menina Maria. Ambos
haviam feito a aposta. Quando chegou o dia seguinte, José apresentou a Maria as
palavras novas que havia conhecido, uma adivinhação e contou uma fábula. Maria,
por sua vez, fez o que devia fazer.
As palavras novas de Maria, foram: crestar,
chalaça, cerviz e pelém. A fábula, era uma já bem conhecida, intitulada O asno
e a carga de sal e a adivinhação foi: O que é, o que é? Quanto mais cresce,
mais baixo fica?
Já o José apresentou a Maria as seguintes palavras
novas: pródromo, farrusco, chilique e letargia. A fábula foi “A raposa e as
uvas.” Já a adivinhação, Jose apresentou uma bem curiosa “A Lamparina.”
Mas, enfim, o que querem ser as crianças quando
crescerem? Pelo que vimos, as crianças não estão preocupadas e nem demonstraram
isso, em nenhum momento, se estavam preocupadas com o futuro. Na verdade,
estavam preocupadas em ser tudo aquilo que estavam sendo no presente:
estudiosas, dedicas e atentas às coisas da vida.
Assim, todos os dias, José e Maria ficavam cada vez
mais sábios e mais cultos, sem se importarem com o que iriam ser quando
crescessem.
- Jose Valdir pereira -
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